Moradores e ativistas criticam a proposta financeira da TEPCO para reiniciar a Usina Nuclear Kashiwazaki-Kariwa. Entenda o dilema energético do Japão e os planos futuros.
O Japão se encontra em um dilema energético crucial: como garantir um fornecimento estável de eletricidade e, ao mesmo tempo, reduzir as emissões de carbono. Neste cenário, a possível reinicialização da Usina Nuclear Kashiwazaki-Kariwa, uma das maiores do mundo, se tornou o centro de um intenso debate.
Moradores locais e ativistas antinucleares na prefeitura de Niigata opõem-se veementemente aos planos da Tokyo Electric Power Company (TEPCO) de retomar as operações. A TEPCO, que também operava a usina de Fukushima antes do desastre de 2011, planeja há anos a reativação de Kashiwazaki-Kariwa.
O Fundo de US$ 667 Milhões: Suborno ou Revitalização Regional?
O ponto central da controvérsia é a proposta financeira da TEPCO. A empresa ofereceu a criação de um fundo de US$ 667 milhões (100 bilhões de ienes) destinado à revitalização da economia regional de Niigata e a investimentos em segurança.
Essa proposta, no entanto, gerou fortes críticas. Ativistas antinucleares a classificaram como um “suborno” para convencer os moradores locais a aceitarem o reinício da Usina Nuclear Kashiwazaki-Kariwa. Hajime Matsukubo, secretário-geral do Centro de Informações Nucleares dos Cidadãos, sediado em Tóquio, resumiu a crítica: “A escala da oferta mostra que [a Tepco] realmente quer reiniciar a usina. Mas isso é simplesmente suborno”.
Pesquisas de opinião indicam que a comunidade local está dividida quanto à permissão para o reinício.
Kashiwazaki-Kariwa: O Status Pós-Fukushima
Após o desastre de Fukushima em 2011, o Japão fechou todas as suas usinas nucleares para rigorosas verificações de segurança. Desde 2015, 14 reatores foram reiniciados, com outros 11 em processo de aprovação. A Usina Nuclear Kashiwazaki-Kariwa está inativa desde 2012.
- Em 2021, a Autoridade de Regulamentação Nuclear (NRA) proibiu a TEPCO de operar a instalação devido a graves violações de segurança.
- Em dezembro de 2023, a NRA levantou a proibição operacional, abrindo o caminho para a retomada.
No entanto, o reinício ainda depende das aprovações da prefeitura de Niigata, da cidade de Kashiwazaki e da vila de Kariwa. O presidente da TEPCO, Tomoaki Kobayakawa, já indicou a intenção de reiniciar o reator nº 6 e, possivelmente, desativar os reatores nº 1 e nº 2.
O Dilema Energético do Japão: Nuclear para Descarbonização
A oposição ao reinício da Usina Nuclear Kashiwazaki-Kariwa reflete o dilema maior do Japão. O país, pobre em recursos e um grande importador de combustíveis fósseis, busca estabilidade energética enquanto se compromete com a descarbonização.
O governo japonês reverteu sua política nuclear e planeja depender mais de reatores para seu fornecimento de energia nas próximas décadas, visando que 20% de sua eletricidade venha de energia nuclear até 2040.
Dados Chave:
- A participação de combustíveis fósseis no fornecimento de energia japonês caiu para o menor nível já registrado no primeiro semestre de 2025.
- A eletricidade de baixo carbono (nuclear e renovável) atingiu o nível mais alto em mais de uma década.
Embora o reinício de reatores nucleares seja visto como uma solução para o problema energético, o país continua a lidar com a opinião pública negativa e as profundas preocupações de segurança que persistem desde 2011, especialmente nas proximidades das usinas. O futuro da Usina Nuclear Kashiwazaki-Kariwa definirá o ritmo da transição energética japonesa.


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