Recorde de acidentes de trabalho no Japão: 6 mil estrangeiros feridos ou mortos expõem crise. Barreira do idioma e falta de treino em fábricas e obras elevam o risco.
A segurança industrial do Japão atingiu um ponto de crise alarmante. Pela primeira vez na história laboral do país, o número de acidentes de trabalho graves ou fatais envolvendo trabalhadores estrangeiros no Japão ultrapassou a chocante marca de 6 mil casos em 2024. Este dado inédito, divulgado pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar (MHLW), não apenas expõe uma disparidade na proteção de vidas, mas também levanta sérias dúvidas sobre a eficácia das políticas de integração e treinamento.
Enquanto a média nacional de acidentes se mantém estável, a taxa entre trabalhadores não japoneses — em especial estagiários técnicos e operários fabris — dispara. É fundamental investigar por que essa população, crucial para a economia japonesa, está sendo exposta a um risco tão superior.
📉 Por que o Risco de Acidentes é Maior para Estrangeiros no Japão?
Os números do MHLW confirmam a disparidade: a taxa de acidentes de trabalho entre estrangeiros é de $2,71$ por mil trabalhadores, significativamente acima da média nacional de $2,35$. O problema se concentra em fatores estruturais que colocam os trabalhadores não japoneses na “linha de frente” do perigo.
- Concentração em Setores de Alto Risco: A maioria esmagadora dos incidentes ocorre em setores fisicamente exigentes e perigosos. A indústria de manufatura registrou $2.979$ casos, e a construção civil $1.165$. Estrangeiros são frequentemente alocados em funções operacionais que a mão de obra local tende a evitar.
- A Vulnerabilidade do Visto (Estagiários Técnicos): O grupo com maior risco é o dos participantes do Programa de Estágio Técnico, cuja taxa de acidentes alcança um alarmante $3,98$ por mil. Este número, bem acima da média geral de estrangeiros, corrobora a crítica de que o programa se tornou uma fonte de mão de obra barata para funções perigosas, muitas vezes sem a devida capacitação exigida para um visto de “trabalhador qualificado”.
- Prevalência de Lesões Graves: O tipo de acidente mais frequente — prensamentos em máquinas ($1.441$ casos) — sugere que os trabalhadores estrangeiros estão diretamente envolvidos na operação de maquinário pesado e de alto risco.
🗣️ A Barreira da Comunicação e a Falha na Proteção Social
A dificuldade em comunicar riscos e procedimentos é uma causa direta da crise. Autoridades citam as “dificuldades de comunicação nos locais de trabalho” como um fator principal, ao lado da carência de treinamento adequado.
O especialista Yoshihisa Saito adverte que muitos trabalhadores assumem funções perigosas “sem ter domínio do idioma”. Essa falha se desdobra em dois pontos críticos:
- Falta de Compreensão dos Riscos: A incapacidade de entender plenamente avisos, comandos e manuais aumenta drasticamente o potencial de erros operacionais e acidentes fatais.
- Material de Segurança Inadequado: A meta do governo de garantir materiais de segurança traduzidos até 2027 evidencia a precariedade atual. Muitas empresas não oferecem instruções na língua nativa do trabalhador.
A fragilidade da proteção social agrava a situação. O professor Saito ressalta o aspecto humano e jurídico: “Muitas vezes, não conseguem nem acionar o seguro trabalhista sozinhos”. Isso significa que a barreira da comunicação prejudica o estrangeiro em dobro: no momento do risco e na posterior busca por seus direitos.
🇧🇷 O Cenário de Risco para a Comunidade Brasileira
A crise de segurança transcende a questão da autonomia. Em números absolutos, residentes de longa permanência e permanentes (onde muitos brasileiros se encaixam) são os mais afetados ($2.283$ casos).
No entanto, a taxa de risco é desproporcionalmente maior para grupos com menor autonomia (Estagiários Técnicos). O MHLW indica que a comunidade brasileira está em 4º lugar entre as nacionalidades mais afetadas, com $673$ casos, atrás apenas de vietnamitas, filipinos e indonésios. Isso sinaliza que, mesmo com uma comunidade estabelecida há décadas no Japão, a segurança no trabalho para os brasileiros continua sendo um desafio sistêmico e não resolvido.
O governo japonês reconhece que o problema é sistêmico. A meta de 2027 — de ter metade das empresas com programas de tradução e treino multilingue — sugere que a segurança e o suporte aos trabalhadores estrangeiros continuam precários na maioria dos estabelecimentos hoje.


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