Descubra por que a indústria de alimentos no Japão é a “última opção” de emprego no Japão. O frio extremo, baixos salários e custo social superam a estabilidade anticrise.
A indústria de alimentos no Japão oferece uma promessa dourada: emprego garantido, estabilidade anticrise e ausência de exigência de idioma. Conhecidas entre os brasileiros como Bentoya ou fábricas de Souzai, essas empresas operam em um setor onde as pessoas precisam comer, garantindo uma demanda constante que a indústria automotiva e de eletrônicos não possui.
Apesar da estabilidade óbvia, o setor de alimentos no Japão é frequentemente visto como a “última opção” de emprego no Japão para a maioria dos trabalhadores estrangeiros. Empreiteiras relatam dificuldade crônica em preencher essas vagas com profissionais mais jovens ou qualificados. Se as vantagens são tão claras, por que os brasileiros evitam o setor?
A resposta não é financeira, mas reside na rotina e nas condições físicas e psicológicas do chão de fábrica, onde a segurança econômica colide com o custo humano.
🏭 Os 5 Fatores da Rejeição à Indústria de Alimentos
A rejeição a este tipo de emprego no Japão é multifatorial e profundamente ligada à qualidade de vida:
1. O Frio Extremo e Hostil
A queixa mais comum é o ambiente de “geladeira”. Para garantir a conservação alimentar, a maioria das fábricas opera entre 5 graus e 10 graus.
“Você trabalha com três camadas de roupa, mas o frio entra nos ossos porque você fica parado na mesma posição por horas.”
Ao contrário da indústria automotiva ou de autopeças, onde o ambiente é termicamente mais suportável, o frio constante na indústria de alimentos cria um ambiente insalubre, agravando problemas articulares e respiratórios.
2. Disparidade Salarial e Ausência de Bônus (Iwaikin)
O cálculo imediato do brasileiro no Japão é crucial. Embora o setor de alimentos ofereça mais dias trabalhados, o valor por hora (jikyuu) é inferior:
- Setor de Alimentos: Média de ¥1.050 a ¥1.200/hora.
- Indústria Automotiva/Eletrônicos: Média de ¥1.300 a ¥1.600/hora.
Além disso, a indústria automotiva e de eletrônicos frequentemente oferece o Iwaikin (prêmio de admissão), bônus que pode variar de ¥100.000 a ¥500.000. A indústria de alimentos raramente oferece esses incentivos agressivos. Para quem busca “fazer o pé de meia” rápido, a indústria pesada, mesmo que instável, paga mais em menos tempo.
3. O Alto Custo Social dos Feriados
A estabilidade de um setor que não para na Golden Week (maio), Obon (agosto) e Oshougatsu (Ano Novo) é financeiramente vantajosa, mas socialmente penalizadora.
Trabalhar nesses feriados significa estar isolado do convívio social da comunidade brasileira no Japão. Essa “solidão do calendário” gera um desgaste emocional, reforçando a sensação de que o trabalhador “só vive para trabalhar”, sem usufruir dos momentos coletivos de lazer.
4. Higiene Extrema e Sensação de “Prisão”
A indústria de alimentos é regida pelas regras sanitárias mais rígidas. O protocolo exige:
- Proibições: Sem maquiagem, barba, joias, relógios ou esmaltes.
- Rituais: Uso constante do “rolo adesivo” (korokoro), lavagem de mãos cronometrada e máscaras.
O processo de entrada na fábrica é visto como exaustivo e desumanizante, gerando tensão pela fiscalização constante. Além disso, o cheiro de comida (fritura, peixe) impregna na pele e cabelo, sendo uma queixa frequente, especialmente entre as mulheres.
5. Monotonia do Trabalho “Robótico”
A natureza do trabalho é extremamente simples (ex.: colocar um morango no bolo, pesar arroz), tornando-o repetitivo e monótono. A velocidade da esteira não permite conversas ou pausas. A pressão psicológica de “não poder errar o ritmo” em uma tarefa que não exige intelecto causa uma estafa mental significativa.
👴 Um Nicho de Resiliência para a Terceira Idade
Apesar da rejeição dos jovens, o setor de alimentos no Japão encontrou seu nicho de resiliência: a terceira idade da comunidade. É um dos poucos locais que acolhe trabalhadores de 60 ou até 70 anos, que são prontamente descartados pela indústria automotiva (que exige força e reflexos rápidos).
Para os recém-chegados, a Bentoya serve como uma “ponte” inicial. No entanto, assim que a economia aquece e grandes empresas como a Toyota abrem vagas pagando mais alto com prêmio de admissão (Iwaikin), a migração é inevitável. O trabalhador no Japão faz um cálculo complexo onde a remuneração por hora e a liberdade social pesam mais do que a segurança de um emprego no Japão “eterno dentro de uma geladeira”.


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