
EUA iniciam revogação “agressiva” de vistos de estudantes chineses, incluindo os com laços com o Partido Comunista. Entenda o impacto e a polêmica.
WASHINGTON – Os Estados Unidos anunciaram na quarta-feira que começarão a revogar agressivamente os vistos de estudantes chineses. A medida, divulgada pelo secretário de Estado Marco Rubio, mira especialmente aqueles com conexões com o Partido Comunista Chinês ou que estudam em áreas consideradas críticas para a segurança nacional. Essa ação pode ter um impacto significativo nas relações entre os dois países.
A decisão, se aplicada de forma ampla, afetará centenas de milhares de estudantes universitários chineses nos EUA. Isso pode, por sua vez, interromper uma importante fonte de renda para as universidades americanas e um canal vital de talentos para as empresas de tecnologia do país. O governo do presidente Donald Trump tem intensificado esforços para aumentar as deportações e revogar vistos de estudante, parte de uma agenda de imigração mais rígida.
A Revisão de Vistos e o Posicionamento Chinês
Em sua declaração, Rubio informou que o Departamento de Estado revisará os critérios de visto para aumentar o escrutínio de todos os futuros pedidos de visto da China e de Hong Kong. “O Departamento de Estado dos EUA trabalhará com o Departamento de Segurança Interna para revogar agressivamente os vistos de estudantes chineses”, afirmou.
A Embaixada Chinesa em Washington não se manifestou imediatamente sobre o assunto. No entanto, o Ministério das Relações Exteriores da China já havia prometido “salvaguardar firmemente os direitos e interesses legítimos” de seus estudantes no exterior. Essa promessa surgiu após a decisão do governo Trump de revogar a capacidade da Universidade Harvard de matricular estudantes estrangeiros, muitos deles chineses – uma medida que foi temporariamente bloqueada por um juiz americano.
Impacto Econômico e Geopolítico
A China está no centro da guerra comercial global de Trump, que já abalou mercados financeiros e cadeias de suprimentos, aumentando os riscos de uma recessão econômica global. A decisão de cancelar os vistos de estudante chineses ocorre apesar de uma recente pausa nas tensões comerciais.
Estudantes internacionais, com Índia e China respondendo por 54% do total, contribuíram com mais de US$ 50 bilhões para a economia dos EUA em 2023, segundo o Departamento de Comércio dos EUA.
Análise dos Vínculos Universitários com a China
O Departamento de Estado possui ampla autoridade para emitir e revogar vistos. A declaração de Rubio não detalhou a extensão das revogações. Mesmo um número relativamente pequeno de revogações pode afetar o fluxo de estudantes chineses que buscam ensino superior nos EUA, um movimento que começou no final da década de 1970.
Nas últimas décadas, os EUA se tornaram o destino preferido para muitos estudantes chineses, que buscam uma alternativa ao sistema universitário extremamente competitivo da China. Eles são atraídos pela reputação das instituições americanas e geralmente vêm de famílias mais ricas. Muitos desses estudantes permaneceram nos EUA após a formatura, contribuindo para a pesquisa e força de trabalho do país.
Contudo, o número de estudantes chineses nos EUA caiu para cerca de 277.000 em 2024, de um pico de 370.000 em 2019. Essa queda é atribuída à crescente tensão entre as duas maiores economias, ao aumento do escrutínio do governo dos EUA sobre os estudantes chineses e à pandemia de COVID-19.
À medida que a rivalidade geopolítica entre EUA e China se aprofunda, agências dos EUA e o Congresso têm intensificado o escrutínio da influência estatal chinesa e das transferências de tecnologia em universidades americanas. Washington está cada vez mais preocupada que Pequim utilize ambientes de pesquisa abertos e financiados pelo governo federal dos EUA para contornar controles de exportação e leis de segurança nacional.
Preocupações e Consequências
O aumento do escrutínio e a incerteza sobre os vistos têm levado mais estudantes chineses a optar por escolas na Europa, e muitos graduados agora retornam à China.
Yaqiu Wang, pesquisadora de direitos humanos que veio da China para os EUA como estudante, reconheceu que Pequim se envolveu em espionagem e roubo de propriedade intelectual. No entanto, ela considerou o anúncio de Rubio “profundamente preocupante”. Wang alertou que “revogações amplas e proibições generalizadas não apenas colocariam em risco os direitos e meios de subsistência dos estudantes chineses que estudam e trabalham nos EUA, mas também arriscariam minar a posição de longa data dos Estados Unidos como líder global em inovação científica”.
Durante o primeiro governo Trump, o então Secretário de Estado Mike Pompeo liderou uma iniciativa para remover os centros culturais do Instituto Confúcio, financiados pelo governo chinês, dos campi universitários dos EUA, alegando que eles promoviam a “propaganda global e a influência maligna” da China e recrutavam “espiões e colaboradores”. Como resultado, muitas instituições dos EUA romperam relações com esses centros.
Recentemente, a Reuters informou que o Departamento de Estado dos EUA suspendeu novos agendamentos para todos os candidatos a vistos de estudantes estrangeiros e visitantes de intercâmbio. O governo Trump expandiu a triagem de estudantes estrangeiros nas mídias sociais e busca aumentar as deportações e revogar vistos de estudante como parte de seus esforços abrangentes de imigração.


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