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Japão e Títulos do Tesouro dos EUA: Uma Carta na Manga em Negociações Comerciais

- 5 de maio de 2025
Japão cogita usar seus títulos do Tesouro dos EUA como trunfo em negociações com Washington. Entenda as implicações dessa estratégia para a economia global.

Japão cogita usar seus títulos do Tesouro dos EUA como trunfo em negociações com Washington. Entenda as implicações dessa estratégia para a economia global.

O Japão considera usar seus mais de US$ 1 trilhão em títulos do Tesouro dos EUA como uma estratégia nas negociações comerciais com Washington. Essa declaração do ministro das Finanças japonês sinaliza, pela primeira vez, o reconhecimento explícito da influência do país como um grande credor dos Estados Unidos. Embora uma venda de títulos não tenha sido ameaçada, a possibilidade levanta questões importantes para investidores globais, especialmente em relação às ações do Japão e da China, os maiores detentores da dívida americana, em busca de concessões tarifárias do governo dos EUA.

A Preocupação com os Títulos do Tesouro em um Cenário de Tarifas

O mercado de títulos do Tesouro experimentou uma significativa instabilidade global após a decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de impor tarifas a diversos parceiros comerciais, incluindo aliados estratégicos como o Japão. Em uma entrevista, o ministro das Finanças, Katsunobu Kato, enfatizou que o principal objetivo da vasta quantidade de títulos do Tesouro dos EUA detidos pelo Japão é garantir liquidez para possíveis intervenções no mercado de iene.

[Palavra-chave principal]: Japão Avalia Estratégias com Títulos dos EUA

Apesar do objetivo primário, Kato não descartou a possibilidade de usar os títulos do Tesouro como um recurso nas negociações comerciais. Questionado sobre se o Japão poderia assegurar a Washington que não venderia seus títulos durante as negociações, ele respondeu que “obviamente precisamos colocar todas as cartas na mesa nas negociações. Pode ser uma delas”. Contudo, ele ressaltou que a decisão de usar essa “carta” é uma questão separada.

Implicações da Postura Japonesa sobre os Títulos do Tesouro

Os comentários de Kato representam uma mudança em relação ao mês anterior, quando ele havia descartado o uso dos títulos do Tesouro em negociações comerciais. Ele se recusou a comentar se as participações japonesas em títulos dos EUA foram discutidas em sua reunião com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent. No entanto, ele sugeriu que a recente instabilidade no mercado de títulos do Tesouro provavelmente influenciou a abordagem de Washington nas negociações com o Japão.

A significativa presença do Japão e da China no mercado de títulos do Tesouro os torna um ponto de foco sempre que os rendimentos dos títulos americanos sobem. Embora o Japão, como um aliado próximo, seja considerado menos propenso a usar seus títulos como barganha, analistas especulam sobre a possibilidade de a China liquidar seus títulos em um cenário de escalada das tensões comerciais.

O Poder da Presença Japonesa no Mercado de Títulos

Até o momento, não há sinais de uma liquidação significativa. Dados recentes indicam um aumento nas posições estrangeiras em títulos do Tesouro dos EUA, com Japão e China elevando suas participações. Contudo, mesmo a percepção da enorme presença japonesa no mercado pode ser uma ferramenta crucial para o país, que possui uma influência limitada devido à forte dependência de sua economia do setor automobilístico nos EUA.

Martin Whetton, chefe de estratégia de mercados financeiros do Westpac em Sydney, observou que “jogar a cartada cedo, enquanto o mercado de títulos dos EUA ainda está na mente do governo após as últimas semanas, é uma jogada inteligente”. Ele acrescentou que o Japão não precisa necessariamente agir, mas pode se posicionar de forma vantajosa para negociar.

Negociações Comerciais em Curso e o Papel dos Títulos

O principal negociador comercial do Japão, Ryosei Akazawa, informou sobre o aprofundamento das negociações com Bessent, abrangendo comércio, medidas não tarifárias e cooperação em segurança econômica. A expectativa é que a próxima reunião ocorra em meados de maio. A instabilidade no mercado de títulos em abril foi um dos fatores que levaram Trump a anunciar uma pausa em seus planos tarifários, com Bessent possivelmente desempenhando um papel crucial nessa decisão.

Além das tarifas, o Japão também enfrentou críticas dos EUA sobre a alegada manipulação do iene para obter vantagens comerciais, o que Tóquio nega. Kato afirmou que sua reunião com Bessent não abordou taxas de câmbio desejáveis ou mecanismos para controlar as flutuações cambiais. Analistas sugerem que os vastos ativos do Tesouro japonês também podem ser usados como ferramenta de barganha em disputas cambiais entre os dois países.

Naka Matsuzawa, estrategista-chefe macroeconômico da Nomura Securities em Tóquio, comentou que essa estratégia “deveria ser uma carta na manga, senão um trunfo, para a negociação”, podendo ajudar a estabilizar a curva de rendimento dos títulos e evitar demandas consideradas irracionais, como a valorização artificial do iene.

Limitações e o Cenário Global

Apesar do potencial estratégico, existem limites para tais ameaças, pois a venda massiva de títulos do Tesouro prejudicaria tanto o Japão quanto a China, desestabilizando os mercados e causando perdas significativas em seus ativos restantes. Nathan Sheets, ex-subsecretário de assuntos internacionais dos EUA e economista-chefe global da Citi Research, afirmou que, dado o impacto negativo para ambos os países, a ideia de uma venda em larga escala era “absolutamente irrelevante no passado”. No entanto, ele concluiu que “os países precisam usar todas as ferramentas disponíveis” e que a necessidade de considerar tal estratégia reflete o cenário global atual.

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