O prestigiado lobby empresarial japonês, Keidanren, fez um chamado crucial nesta terça-feira para um aumento salarial acima da taxa de inflação. Este apelo marca uma tendência decisiva para as iminentes negociações salariais anuais, que podem ser a chave para o Banco do Japão (BOJ) ponderar o fim de sua política monetária extremamente flexível.
Os especialistas apontam que o sucesso das negociações da Primavera deste ano, entre sindicatos e grandes corporações, depende de um aumento salarial substancial que poderia impulsionar uma inflação sustentável. Esta última é vista como essencial para a reversão da política de juros negativos do país.
Espera-se que as negociações, que definem o tom para o panorama econômico do Japão, concluam-se até meados de março. “Esperamos que o BOJ reconheça os aumentos salariais nas grandes empresas e avance para eliminar as taxas negativas já em abril”, prevê Hideo Kumano, do Dai-ichi Life Research Institute.
Masakazu Tokura, presidente da Keidanren, declarou que o setor empresarial tem a “responsabilidade social” de implementar aumentos salariais que ultrapassem a inflação. “Estamos diante de uma ‘última oportunidade’ para erradicar a deflação”, afirmou Tokura, ressaltando a urgência da situação.
O relatório anual da Keidanren, que dita a estratégia dos membros do lobby para as negociações com o Rengo, o maior sindicato do Japão, também sugere que o governo e o BOJ devem guiar políticas que favoreçam “aumentos de preços apropriados”.
As pequenas empresas, que representam a maior parte da força de trabalho do Japão, geralmente começam suas negociações salariais após as grandes corporações, e só mais tarde no ano se conhecerá o alcance de suas decisões salariais. Apesar das margens apertadas, a crise de mão de obra, exacerbada pelo envelhecimento populacional, força muitas dessas empresas a elevar salários para atrair talentos.
O primeiro-ministro Fumio Kishida, junto ao governador do BOJ, Kazuo Ueda, e os líderes do Keidanren e do Rengo, estão alinhados na busca por aumentos salariais acima da inflação, especialmente após os incrementos de quase 3,6% do ano passado – os maiores em 30 anos.
Com o mercado de trabalho apertado, lucros empresariais recordes e uma ampla liquidez, as empresas japonesas têm mais condições de compartilhar ganhos com os trabalhadores, o que, juntamente com uma taxa de desemprego quase na mínima histórica e mais empregos disponíveis do que candidatos, cria um cenário favorável para salários mais altos.
A bolsa de liquidez das empresas, que atingiu 343 trilhões de ienes no final de setembro, e a baixa relação salário-lucro deixam espaço para o crescimento dos custos laborais, segundo analistas.
O relatório da Keidanren é apenas o prelúdio para o fórum trabalhista e de gestão que ocorrerá na próxima semana, dando início oficial às negociações salariais.