
O Japão busca autonomia em terras raras, desafiado pelo controle chinês. Descubra como um tesouro submarino pode redefinir o futuro tecnológico japonês.
Tóquio está empenhada em se consolidar como uma potência no setor de terras raras. Essa ambição ganha destaque à medida que a China intensifica seu controle sobre as cadeias de suprimentos globais. Apesar de um acordo firmado em meados de junho entre os EUA e a China, o fornecimento de terras raras permanece limitado. Consequentemente, empresas japonesas e fabricantes globais continuam enfrentando incertezas significativas no mercado.
A decisão chinesa de restringir a exportação de sete elementos-chave de terras raras em abril tem sido vista como uma estratégia geopolítica para exercer influência. Embora Pequim afirme aceitar pedidos de exportação, o alto nível de exigência para aprovação praticamente inviabilizou o fornecimento. Elementos como disprósio e térbio, cruciais para ímãs de alto desempenho, são essenciais para veículos elétricos (VEs), turbinas eólicas e sistemas avançados de defesa.
Segundo Tomoji Ohara, da Fundação Sasakawa para a Paz, a estratégia da China é clara: controlar as terras raras para manter influência sobre países como os EUA e seus aliados. “A questão não é se a China consegue extrair os recursos — mas sim quem eles permitem que os acesse”, afirmou Ohara.
O impacto dessa restrição é palpável. Montadoras americanas relatam atrasos na produção devido à escassez, e empresas japonesas enfrentam cancelamento de contratos pelos novos requisitos de documentação impostos por exportadores chineses.
A Solução Submarina do Japão Um Tesouro Escondido
No entanto, o Japão pode ter uma solução promissora sob suas próprias águas. Uma equipe de pesquisa liderada pelo professor Kentaro Nakamura, da Universidade de Tóquio, descobriu em 2012 que o leito marinho ao redor de Minamitorishima, a ilha mais oriental do Japão, contém lama rica em elementos de terras raras. Essa reserva tem o potencial de suprir centenas de anos da demanda global.
Pesquisas iniciais mostram que essa lama de águas profundas contém todas as sete terras raras atualmente sob controle de exportação chinês. Mais notavelmente, as concentrações são significativamente maiores do que as encontradas em fontes terrestres. “Mesmo uma pequena parte da área de Minamitorishima contém mais de 16 milhões de toneladas de lama rica em terras raras”, disse Nakamura. “Se toda a Zona Econômica Exclusiva for pesquisada, o Japão poderá possuir as maiores reservas do mundo.”
Desafios e Avanços na Extração em Águas Profundas
Apesar do vasto potencial, os obstáculos tecnológicos e financeiros são consideráveis. Extrair recursos a 6.000 metros de profundidade é uma tarefa complexa. Contudo, o Japão já testou sistemas capazes de coletar lama do fundo do mar a 2.000 metros e, neste ano fiscal, planeja um teste a 6.000 metros perto de Minamitorishima. Um consórcio envolvendo agências governamentais e empresas de engenharia, como a Toyo Engineering, está desenvolvendo equipamentos especializados para agitar e bombear a lama de alta viscosidade para a superfície.
Uma vantagem ambiental significativa é que, ao contrário dos depósitos terrestres da China (associados a elementos radioativos como o tório), a lama do leito marinho do Japão é isenta de subprodutos nocivos. Isso permite ao Japão extrair e refinar terras raras internamente sem as complicações das regulamentações de radiação.
A Questão Geopolítica e a Urgência Japonesa
O interesse da China na região de Minamitorishima está crescendo, com porta-aviões chineses avistados navegando perto da ZEE japonesa. Rastreamentos por satélite e marítimos indicam que a China pesquisa ativamente o fundo do mar em áreas próximas e já obteve direitos de exploração de nódulos polimetálicos de organismos internacionais.
A mídia estatal chinesa questiona a soberania do Japão sobre ilhas remotas como Minamitorishima, sugerindo que o Japão pode não ter plenos direitos de exploração de recursos em suas águas. Se a China iniciar a mineração em larga escala em águas profundas, poderá desafiar o Japão não apenas economicamente, mas também geopoliticamente.
Yutaka Yoshitake, editor da Rare Metal Weekly, alertou que o atraso do Japão no desenvolvimento de recursos pode permitir que a China estabeleça domínio também na extração em águas profundas. “Se a China provar sua capacidade primeiro, estabelecerá um precedente internacional”, disse ele.
Nakamura enfatiza a necessidade de ação imediata por parte do Japão, enquanto o país ainda possui capacidade técnica e industrial. “Toda a cadeia de valor ainda existe no Japão — da extração à produção de ímãs, passando pelas indústrias de uso final. Esta é uma oportunidade rara.”
O Japão enfrenta uma escolha crucial: continuar avaliando a viabilidade econômica da mineração em águas profundas ou tratá-la como um projeto nacional estratégico que merece forte apoio estatal. Especialistas ressaltam que, sem subsídios governamentais, é improvável que empresas privadas assumam os altos custos e riscos de desenvolver tecnologias tão inéditas.
Há muito em jogo. As terras raras são cruciais não apenas para veículos elétricos e energias renováveis, mas também para tecnologias militares e aeroespaciais, definindo o futuro estratégico do Japão.


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