O Impacto do “Jornalismo de Agosto”. Como a mídia japonesa manipula memórias e cria narrativas distorcidas.
Todo mês de agosto, os meios de comunicação japoneses apresentam especiais sobre a Segunda Guerra Mundial, destacando as experiências dos sobreviventes. Essas reportagens são centradas em torno do dia 15 de agosto, data em que o Imperador Hirohito anunciou a rendição do Japão. No entanto, Takumi Sato, professor de história da mídia na Universidade Sophia, argumenta que esses conteúdos deveriam ser exibidos em setembro, pois o fim oficial da guerra é reconhecido globalmente como 2 de setembro de 1945, quando o Japão assinou o instrumento de rendição.
A Perspectiva de Takumi Sato
Sato acredita que a observância do fim da guerra em agosto é um reflexo de um pensamento insular. Ele critica a mídia japonesa por não realizar verificações rigorosas de fatos, resultando em histórias baseadas em memórias manipuladas que enfatizam uma narrativa de vitimização, sem considerar o papel do Japão como agressor. Para Sato, a mídia deveria repensar sua cobertura tradicional e focar nos eventos cruciais de setembro, promovendo um diálogo mais significativo com outros países.
Entrevista com Takumi Sato
Pergunta: Você critica o “jornalismo de agosto”. Pode explicar seu argumento?
Resposta: Nenhuma guerra mundial terminou em 15 de agosto. O Japão aceitou a Declaração de Potsdam em 14 de agosto, mas os combates continuaram em várias frentes. A rendição oficial ocorreu em 2 de setembro de 1945, quando representantes japoneses assinaram o instrumento de rendição a bordo do USS Missouri. Comemorar o fim da guerra em 15 de agosto é um pensamento insular que ignora a continuidade dos combates e marginaliza as experiências de civis e soldados japoneses em outras partes da Ásia.
Pergunta: O que é o “jornalismo de agosto”?
Resposta: O “jornalismo de agosto” começou em 1955, no 10º aniversário do fim da guerra. Muitas histórias e fotos publicadas são questionáveis quanto à sua autenticidade. A cobertura da mídia sobre o legado da guerra é baseada em memórias manipuladas, que foram repetidamente citadas e transformadas em lendas. Isso cria uma falsa impressão de uma ruptura clara entre o Japão pré-guerra e pós-guerra.
Proposta de Mudança para Setembro
Sato propõe mudar a cobertura relacionada à guerra de agosto para setembro. Ele destaca vários eventos importantes em setembro, como o fim oficial da guerra em 2 de setembro de 1945, a assinatura do Tratado de Paz de São Francisco em 8 de setembro de 1951, e o Incidente da Manchúria em 18 de setembro de 1931. Essa mudança permitiria uma discussão mais ampla e significativa sobre a história do Japão, promovendo um diálogo com outros países.
Desafios na Transmissão de Memórias de Guerra
Com 85% da população japonesa nascida após a guerra, é crucial transmitir memórias precisas. Sato alerta que “memórias de guerra” serão reestruturadas no futuro, enfatizando a representação social e política da guerra. Ele destaca que grandes potências usam o legado histórico para vantagens políticas, e o Japão deve confrontar essas tentativas para promover seus interesses.
Conclusão
A mídia japonesa deve desempenhar um papel significativo na promoção de um diálogo baseado no reconhecimento de desacordos sobre percepções históricas. Mudando a cobertura da guerra para setembro, o Japão pode iniciar um caminho de reconciliação e entendimento com outros países.
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