Quando o general Toyotomi Hideyoshi mandou construir um castelo em Osaka, uma quantidade exorbitante de trabalhadores, foram empregados na obra.
Um dos trabalhos mais pesados foi o de quebrar pedras, para que fossem usadas nos alicerces do castelo.
Entre os muitos quebradores, havia um moço chama Heihachi, que estava muito infeliz com sua função:
– que vida desgraçada. Eu realmente não fui iluminado pelos deuses. O que eu fiz para merecer esse castigo? Porque tenho que quebrar pedras?
Enquanto balbuciava reclamações, Heihachi viu o cortejo de Hideyoshi, que chegava para averiguar o andamento da obra.
Enquanto estava ajoelhado e de cabeça baixa, o cortejo passava.
No meio do trajeto, o mago Shamon, que acompanhava Hideyoshi, deixou cair próximo a Heihachi, um leque dobrável.
O quebrador de pedras pensou em avisar ao mago sobre seu leque, mas lembrou que se levantasse a cabeça, o general cortaria-lhe a cabeça.
Depois que os nobres passaram, Heihachi apanhou o leque e ficou apreciando o luxuoso cortejo, que já ia bem longe:
– Eu bem que gostaria de ser aquele samurai que está montado no cavalo branco. Deve ser o comandante da guarda do general. Que imponência! Que traje luxuoso! – pensou Heihachi, enquanto inconscientemente amenizava o calor, abanando seu rosto com o leque do mago Shamon.
Ao mesmo tempo em que a brisa refrescava o seu rosto, uma transformação surpreendente ia acontecendo.
Heihachi havia se tornado o comandante da guarda de Hideyoshi.
A partir daquele momento, começou a desfrutar de privilégios que jamais tinha imaginado. Ao invés de quebrar pedras, passava o dia cavalgando em seu belo cavalo branco, comendo e bebendo do melhor, morando num quarto luxuoso do castelo feudal e usando sempre roupas novas e impecavelmente engomadas.
Apesar de respeitado, ele ainda tinha que baixar a cabeça quando o general passasse:
-Como é poderoso o general! E ainda dizem que ele já foi um homem simples como eu. Ah, como eu gostaria de ser como ele. – Pensou enquanto abanava-se
Então Heihachi se tornou o homem mais poderoso do Japão.
Todos baixavam a cabeça para ele, pois sua palavra era lei. Já não precisava caminhar com os próprios pés, era carregado para qualquer lugar que fosse numa luxuosa liteira forrada de seda.
Num dia quente de verão, Heihachi sentiu-se desconfortável na sua rica e suada liteira e olhou para cima.
Viu que o sol brilhava poderosamente no céu, sem sequer se importar com os sacrifícios dos homens:
-Como é poderoso o sol. Ilumina o país inteiro e ao mesmo tempo, se quiser, pode fazer todo o povo do Japão morrer de calor. Gostaria de ser o sol – disse Heihachi abanando de tanto calor.
Heihachi tornou-se sol.
Brilhava como nunca, lançando seus raios para a terra, secando campos e sendo amaldiçoado por fazendeiros e trabalhadores.
Um belo dia, uma nuvem negra gigantesca, ficou entre ele e a terra e seu calor não poderia mais alcançar o chão:
-Como é bela e poderosa, a nuvem de tempestade. Gostaria de ser como ela.
Então tornou-se nuvem.
Inundava campos e vilas, causava temor a todos.
Mas um dia percebeu que estava sendo empurrado para longe e percebeu que era a força do vento:
-Como é poderoso o vento. Gostaria de ser como ele.
E tornou-se vento.
Virava furacão, soprava telhas, desenraizava árvores, era temido e odiado por todas as criaturas da terra.
Mas havia algo que ele não conseguia sequer mover um milímetro da terra, não importa o quanto ele soprasse. Ele viu o objeto e percebeu que era uma grande rocha.
– Como é poderosa a rocha! Gostaria de ser como ela.
E tornou-se rocha.
Compacto e mais poderoso que qualquer coisa na terra. Intransponível, inamovível. Mas enquanto estava lá, orgulhoso em sua rigidez pensou:
– O que poderia ser mais poderoso que uma rocha?
Então ele olhou para baixo e viu a figura de um quebrador de pedras.
– Gostaria de ser um quebrador de pedras.
Então tornou-se o mesmo quebrador de pedras de antes.
Nisso, ele ouviu uma voz que dizia:
-Jovem este leque é meu, obrigado.
Heihachi entregou o leque ao mago e disse:
– senhor deixou cair de propósito, não é mesmo?! Obrigado por iluminar a minha mente. Eu era poderoso e não sabia. Como sou feliz, voltando a ser eu mesmo.