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Escândalo Literário no Japão, A IA Choca o Kakuyomu e Desencadeia Debate Global

- 18 de novembro de 2025
Escândalo no Japão! IA domina ranking do Kakuyomu, forçando debate sobre autoria e futuro da escrita criativa para expatriados. Saiba como a tecnologia está mudando o mercado editorial.

Escândalo no Japão! IA domina ranking do Kakuyomu, forçando debate sobre autoria e futuro da escrita criativa para expatriados. Saiba como a tecnologia está mudando o mercado editorial.

Um terremoto digital abalou a cena literária japonesa, com um romance gerado por inteligência artificial (IA) conquistando o topo do ranking diário do Kakuyomu. Este site de ficção online, lançado em 2016 pela gigante editora Kadokawa, viu sua plataforma ser palco de um fenômeno que reacendeu o debate sobre o papel da IA na escrita criativa. Para os expatriados no Japão, este acontecimento não é apenas uma curiosidade local, mas um prenúncio das transformações que a tecnologia pode trazer ao cotidiano e ao mercado de trabalho.

Ascensão Meteórica da IA no Kakuyomu

A segunda-feira marcou a ascensão do romance de IA, desencadeando discussões acaloradas nas redes sociais. Usuários se dividem entre o fascínio pela inovação e a preocupação com o futuro da narrativa humana. O Kakuyomu, celeiro de gêneros como fantasia, ficção científica e romance, permite que autores publiquem suas histórias gratuitamente. Muitos desses sucessos digitais acabam nas livrarias físicas. O ranking da plataforma, impulsionado por visualizações e engajamento, é a porta de entrada para a visibilidade e monetização, inclusive por receita publicitária.

O controverso romance, uma história de amor isekai com reencarnação e foco feminino, emprega inteligência artificial para gerar um volume impressionante de conteúdo: cerca de 100.000 caracteres kanji por dia. O título, um tanto peculiar, “Encontrei uma garota na esquina e usei magia de cura nela, curando-a de uma doença incurável e cegueira, e ela se apegou muito a mim”, já indica o tom fantasioso da obra.

A trama segue Yuuki, um ex-funcionário de escritório transportado para outro mundo e agraciado com poderes mágicos de cura. Ele salva Lunaria, filha de um duque, e o inevitável romance floresce. A explosão do projeto não se deu apenas pela autoria da IA, mas pela velocidade avassaladora com que a autora, Natsumi Nai, explorou o algoritmo do Kakuyomu. Esse algoritmo recompensa atualizações frequentes, visualizações e crescimento de seguidores, criando um ciclo autossustentável: mais capítulos gerados por inteligência artificial equivalem a mais cliques, maior visibilidade e engajamento, catapultando a história ao primeiro lugar.

A Questão da Autoria na Era da IA

Natsumi Nai expôs a vulnerabilidade de ecossistemas de ritmo humano diante de ferramentas generativas. A comunidade de web novels no Japão foi forçada a questionar: o que define a escrita na era da IA?

A autora publicou um pedido de desculpas, reconhecendo a falta de transparência sobre a metodologia de escrita da obra. Apesar de mencionar o uso de IA em seu perfil, ela admitiu que deveria ter sido mais explícita. O romance teve um desempenho excepcional, com o primeiro episódio atingindo cerca de 50.000 visualizações e potencialmente rendendo à autora dezenas de milhares de ienes mensais. O programa de royalties do Kakuyomu, atrelado à receita publicitária, e a estrutura corporativa da Kadokawa, que abrange mangás, animes e produtos licenciados, significam que um sucesso na plataforma pode rapidamente se transformar em uma franquia multimídia.

O Futuro da Publicação e a IA

Esta não é a primeira vez que a inteligência artificial causa alvoroço no Kakuyomu; um incidente similar ocorreu em julho. No entanto, o evento recente intensificou as preocupações. Críticos apontam que, embora o texto de IA imite estruturas de sucesso, ele corre o risco de homogeneizar o conteúdo e sufocar vozes originais. A reação foi veemente, com usuários do X expressando o receio de que a IA esteja “inundando” os espaços criativos.

A principal crítica reside na ideia de que a IA não compete de forma justa, utilizando vastos conjuntos de dados não autorizados, treinados em obras humanas. Incidentes como a coleta não autorizada de 120.000 histórias do Kakuyomu apenas alimentam o temor de que essa “inundação” possa reduzir a visibilidade de autores individuais e diluir incentivos financeiros.

No entanto, defensores da inteligência artificial ressaltam a liberdade criativa e a democratização da escrita. Argumentam que a classificação deve focar no produto final e que o uso eficaz da IA ainda exige habilidade humana no planejamento e orientação. Sugerem a rotulagem obrigatória de obras geradas por IA para transparência ou regulamentações para evitar abusos, sem proibir a ferramenta.

Essa controvérsia se insere em um contexto global de ajuste de contas com a IA nas artes, com casos como o romance vencedor do Prêmio Akutagawa, que incorporou conteúdo gerado pelo ChatGPT. Enquanto isso, Natsumi Nai continua a produzir light novels em ritmo acelerado, publicando um capítulo por dia em uma dúzia de romances, consolidando a presença da inteligência artificial no cenário literário.

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