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Impacto nuclear japonês na cultura — da bomba atômica ao renascimento

- 11 de setembro de 2025
Cultura japonesa moldada pelos traumas nucleares, refletida em mangás, animes e literatura. Descubra essa influência profunda, conectar-se ao Japão.

Cultura japonesa moldada pelos traumas nucleares, refletida em mangás, animes e literatura. Descubra essa influência profunda, conectar-se ao Japão.

As bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki trouxeram um impacto profundo à cultura japonesa, marcando uma herança que persiste até hoje. Essa influência surge de forma explícita, em clássicos como Godzilla, e permeia mangás e animes contemporâneos, como Astro Boy, Akira, Neon Genesis Evangelion e Attack on Titan.

Expressões culturais e trauma coletivo

No primeiro parágrafo, destacamos a forma como a cultura japonesa processa o trauma através de sua produção artística. A expressão “passar por um sofrimento extremo” e exorcizar esse trauma se revela recorrente, segundo o historiador William Tsutsui da Universidade de Ottawa. Ele observa que essa temática fascina audiências globalmente, por sua profundidade emocional.

O peso histórico dos bombardeios

Em agosto de 1945, Hiroshima perdeu cerca de 140 mil vidas e Nagasaki cerca de 74 mil. Desde então, o mundo cultural do Japão tece narrativas de destruição, mutações e tragédia — relacionando-as não apenas ao medo de catástrofes naturais, mas também, após 2011, ao desastre de Fukushima.

Vozes literárias e memorialismo indireto

Parte da produção artística aborda os acontecimentos de modo indireto. A escritora Yoko Tawada afirma que “alguns poemas descrevem o puro terror” do momento da explosão, enquanto outros exploram os efeitos colaterais do trauma nuclear. Em O Emissário (2014), Tawada explora os ecos da tragédia nuclear, de Fukushima e da doença de Minamata — uma contaminação por mercúrio ocorrida no sudoeste japonês nas décadas seguintes à guerra. “As coisas podem piorar, mas encontraremos uma maneira de sobreviver”, diz ela, transmitindo esperança como mensagem central.

Godzilla como metáfora do medo coletivo

Godzilla é a representação mais emblemática da relação ambígua do Japão com a energia nuclear: uma criatura pré-histórica despertada por testes atômicos. Tsutsui diz que “precisamos de monstros para dar forma e rosto a medos abstratos”. Nos anos 1950, Godzilla materializou o terror com radiação e memórias das bombas. Muitos japoneses saíam das sessões de cinema emocionados, vendo Tóquio devastada na tela.

Literatura documental e reflexão crítica

O romance Chuva Negra (1965), de Masuji Ibuse, trata da doença e discriminação pós-radiação — levantando debate sobre quem tem legitimidade para narrar essas histórias. Já Kenzaburo Oe, prêmio Nobel de Literatura em 1994, selecionou relatos de sobreviventes em Hiroshima Notes, uma obra documental com abordagem pessoal, que inclui sua relação com o filho deficiente.

Arte, memória e responsabilidade histórica

Yoko Tawada, que viveu 40 anos na Alemanha, recorda a educação antimilitarista recebida no Japão e ressalta a necessidade de uma visão compreensiva da história. Imagens de bombardeios atômicos na infância evocaram para ela memórias infernais da arte clássica japonesa, levando-a a questionar: “será que a própria civilização humana é fonte de perigo?” As armas nucleares, então, não seriam meramente um avanço tecnológico, mas um símbolo sombrio que assombra a alma humana.

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