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Os japoneses que não aceitaram a derrota

- 29 de dezembro de 2025
Descubra a história da Shindo Renmei e os conflitos que abalaram a comunidade japonesa no Brasil após a Segunda Guerra Mundial.

Descubra a história da Shindo Renmei e os conflitos que abalaram a comunidade japonesa no Brasil após a Segunda Guerra Mundial.

O fim da Segunda Guerra Mundial trouxe uma crise profunda para os imigrantes no Brasil. A distância e a censura facilitaram a propagação de notícias falsas. Nesse contexto, surgiu a Shindo Renmei, uma organização que negava a derrota do Japão. O grupo perseguiu aqueles que aceitavam a realidade do conflito mundial.


O surgimento da Shindo Renmei no Brasil

A repressão do Estado Novo proibiu o uso do idioma japonês em solo brasileiro. Jornais foram fechados e escolas nipônicas encerraram suas atividades. Como resultado, a comunidade ficou isolada e sem informações oficiais confiáveis.

A Shindo Renmei aproveitou esse vácuo para disseminar teorias nacionalistas extremas. A organização afirmava que o Japão havia vencido a guerra de forma gloriosa. Muitos imigrantes acreditaram nessas mentiras por puro patriotismo ou desespero.

A divisão entre Kachi-gumi e Make-gumi

A colônia japonesa dividiu-se em dois grupos rivais e muito distintos. Primeiramente, os Kachi-gumi formavam a maioria vitorista e fervorosa. Eles acreditavam que as notícias sobre a rendição eram apenas propaganda americana.

Por outro lado, os Make-gumi compreendiam que o Japão havia sido derrotado. Geralmente, eram pessoas mais integradas à cultura brasileira e com acesso a rádios. No entanto, os vitoristas os chamavam de “corações sujos” de forma pejorativa.

A onda de assassinatos e o terror no interior

A Shindo Renmei radicalizou suas ações para manter a honra japonesa intacta. Jovens executores, chamados de tokkotai, foram recrutados para eliminar os “traidores”. Primeiramente, as vítimas recebiam cartas exigindo o suicídio ritualístico, o seppuku.

Caso a vítima recusasse, os executores utilizavam armas de fogo ou espadas tradicionais. Como resultado, ao menos 23 pessoas foram assassinadas em cidades como Bastos e Tupã. Além disso, o terror deixou mais de 150 feridos na colônia.

Números do conflito civil nipônico

Dados da repressãoQuantidade
Mortos confirmados23 pessoas
Pessoas feridas150 pessoas
Suspeitos fichados30.000 pessoas
Expulsos do país80 pessoas

O fim do fanatismo e o legado de silêncio

O conflito só perdeu força na década de 1950. As fotos do Japão sendo reconstruído tornaram-se provas irrefutáveis da derrota. No entanto, as feridas sociais demoraram muito tempo para cicatrizar totalmente.

A história da Shindo Renmei permaneceu como um tabu por gerações inteiras. Atualmente, o episódio serve como um alerta sobre os perigos do isolamento cultural. O acesso à informação livre é essencial para evitar tragédias comunitárias.

A história foi para transposta para o livro e posteriormente para o cinema. Busque na Netflix o título “Corações Sujos”, imperdível.

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Autor

**Portal Mundo-Nipo**
Sucursal Japão

Jonathan Miyata é Correspondente Internacional do Canal Mundo-Nipo em Tóquio. Graduado em Jornalismo pela Universidade de São Paulo e com Pós-Graduação em Estudos Asiáticos pela Universidade de Tóquio (Todai). Atua na cobertura de política, tecnologia e cultura japonesa há mais de 8 anos, com passagens pelo grupo Abril antes de integrar o Mundo-Nipo.

Reportagem: Esta é uma descrição de eventos e ocorrências cujo conteúdo é rigorosamente fundamentado em dados e fatos. As informações são verificadas por meio da observação direta do repórter ou mediante consulta a fontes jornalísticas consideradas idôneas e confiáveis.

Fonte: Livro Corações Sujos de Fernando Morais, Arquivo Público do Estado de São Paulo, Memorial da Imigração Japonesa, Revista História Viva

Edição e publicação responsável: Mundo-Nipo Notícias

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