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Os Yakuzas dão passagens ao Tokuryu e Hangure

- 22 de dezembro de 2025
Descubra os riscos do crime organizado no Japão, a ascensão dos grupos Tokuryu e as severas leis de deportação do Japão para estrangeiros condenados.

Descubra os riscos do crime organizado no Japão, a ascensão dos grupos Tokuryu e as severas leis de deportação do Japão para estrangeiros condenados.

O Japão, historicamente conhecido por sua segurança e rigidez social, vive uma transformação silenciosa em sua estrutura criminal. A tradicional Yakuza, com seus códigos de honra centenários e rituais complexos, está envelhecendo e perdendo força. No vácuo deixado por ela, surgem os Tokuryu (grupos de crime organizado anônimos e fluidos) e os Hangure (gangues “meio-cinzas”), que estão recrutando cada vez mais jovens estrangeiros — incluindo brasileiros, filipinos, chineses e vietnamitas.

1. O que deslumbra estes jovens?

Para muitos estrangeiros de segunda ou terceira geração, ou imigrantes recém-chegados, o “sonho japonês” muitas vezes esbarra em barreiras invisíveis. O que os atrai para o crime geralmente se resume a três pilares:

  • Pertença e Identidade: Muitos desses jovens crescem em comunidades isoladas e enfrentam preconceito no mercado de trabalho formal. A máfia oferece uma estrutura de “família” e um senso de identidade que a sociedade japonesa muitas vezes lhes nega.
  • O Estilo de Vida “Glamourizado”: Influenciados por redes sociais, filmes e jogos (como a franquia Like a Dragon), a estética do gângster moderno — roupas de marca, carros de luxo e poder — exerce um forte apelo visual e psicológico.
  • A “Facilidade” do Crime Digital: Diferente da Yakuza clássica, os novos grupos operam com golpes telefônicos, fraudes com criptomoedas e crimes cibernéticos, que parecem menos “sujos” e mais acessíveis para uma geração nativa digital.

2. É realmente rentável?

A resposta curta é: raramente para quem está na base.

  • A Ilusão do Dinheiro Rápido: No início, um jovem pode ganhar em uma semana o que receberia em um mês em uma fábrica ( shigoto ). No entanto, as taxas de “proteção” e as comissões pagas aos superiores ( jiki-san ) consomem a maior parte dos lucros.
  • Crise na Máfia: Com as leis anti-gangues ( Boryokudan Exclusion Ordinances ) cada vez mais rígidas, até os grandes chefes estão com dificuldade de abrir contas bancárias ou alugar imóveis. Isso reflete nos recrutas, que muitas vezes acabam em trabalhos perigosos e de baixo retorno, como a cobrança de dívidas de agiotagem ou “mulas” de drogas.

3. Quais são os riscos de deportação?

Para um estrangeiro, o risco não termina na prisão; ele termina no aeroporto.

  • Tolerância Zero: O Japão possui uma das legislações de imigração mais rígidas do mundo. Qualquer envolvimento comprovado com crime organizado é motivo imediato para a revogação do visto, independentemente de quanto tempo a pessoa vive no país.
  • O Caminho Sem Volta: Uma vez condenado e cumprida a pena, o indivíduo é geralmente encaminhado para um centro de detenção de imigração e deportado com um banimento que pode ser vitalício.
  • O “Dedo Cortado” e a Polícia: No passado, a Yakuza era tolerada como um “mal necessário”. Hoje, a polícia japonesa utiliza estrangeiros como o elo mais fraco para chegar aos líderes, oferecendo pouca ou nenhuma proteção ao recruta quando o cerco fecha.

Nota de Realidade: Muitos jovens brasileiros no Japão, atraídos por promessas de dinheiro fácil em redes sociais, acabam em esquemas de Yamiba (trabalhos sombrios), sendo usados como “descartáveis” pelas organizações, que os abandonam ao primeiro sinal de investigação policial.

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Autor

**Portal Mundo-Nipo**
Sucursal Japão

Jonathan Miyata é Correspondente Internacional do Canal Mundo-Nipo em Tóquio. Graduado em Jornalismo pela Universidade de São Paulo e com Pós-Graduação em Estudos Asiáticos pela Universidade de Tóquio (Todai). Atua na cobertura de política, tecnologia e cultura japonesa há mais de 8 anos, com passagens pelo grupo Abril antes de integrar o Mundo-Nipo.

Reportagem: Esta é uma descrição de eventos e ocorrências cujo conteúdo é rigorosamente fundamentado em dados e fatos. As informações são verificadas por meio da observação direta do repórter ou mediante consulta a fontes jornalísticas consideradas idôneas e confiáveis.

Fonte: National Police Agency of Japan, The Japan Times, NHK World, Mainichi Shimbun, Ministry of Justice of Japan

Edição e publicação responsável: Mundo-Nipo Notícias

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