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Por que muitos Nikkeis dizem que o Japão não vale mais a pena, mas não retornam ao Brasil?

- 27 de novembro de 2025
Entenda o discurso de desencorajamento dekassegui no Japão: por que, apesar das queixas, muitos permanecem. Revelamos os fatores econômicos e psicológicos.

Entenda o discurso de desencorajamento dekassegui no Japão: por que, apesar das queixas, muitos permanecem. Revelamos os fatores econômicos e psicológicos.

O discurso de desencorajamento dekassegui nas redes sociais é uma manifestação complexa que, em sua essência, busca justificar a permanência em um ambiente que exige alto sacrifício. Essa narrativa, muitas vezes permeada por frustrações, esconde raízes profundas que vão desde a armadilha financeira até mecanismos psicológicos de defesa e até mesmo a sutil proteção da própria posição no mercado.

A Irresistível Armadilha Financeira no Japão

A permanência do dekassegui no Japão, apesar das frequentes queixas, é largamente impulsionada por um fator econômico quase incontornável. O mercado de trabalho japonês, mesmo em funções de baixa qualificação, conhecidas como “3K” (Kitanai, Kiken, Kitsui – sujo, perigoso, difícil), oferece uma estabilidade financeira e uma capacidade de poupança que se mostram praticamente inviáveis no Brasil.

O Hiato Profissional e o Retorno Desafiador

Anos dedicados a linhas de produção e fábricas no Japão frequentemente resultam em uma interrupção ou não desenvolvimento de carreiras que seriam valorizadas no mercado brasileiro. O retorno ao Brasil, para muitos, significa encarar um mercado de trabalho com um currículo defasado ou sem qualificação formal, o que inevitavelmente leva a salários baixíssimos e poucas oportunidades de crescimento.

O Inegável Poder do Iene

Um salário em ienes, mesmo para o trabalho não qualificado, quando convertido para reais e comparado ao custo de vida no Brasil, permite o acúmulo de capital. Esse capital se traduz na concretização de metas importantes, como a compra da casa própria ou o investimento na educação dos filhos. Tal capacidade de poupança seria totalmente inviável no Brasil, onde a mesma mão de obra enfrenta não apenas baixos salários, mas também uma alta instabilidade empregatícia.

A Decisão é Financeira, a Crítica é Verbal

Apesar da verbalização das dificuldades e críticas ao Japão, a decisão de permanecer é, no fundo, estritamente financeira. O dekassegui compreende que seu estilo de vida no Brasil ou suas metas de ascensão social dependem intrinsecamente da forte remuneração em moeda estrangeira que apenas o Japão oferece à sua atual qualificação.

Frustração e Alívio Psicológico

O discurso de desencorajamento dekassegui também opera como um robusto mecanismo de defesa para aqueles que enfrentam o alto custo emocional da migração.

Validando o Sacrifício da Vida no Japão

Ao expressar que a vida no Japão é difícil ou “ruim”, o indivíduo valida e valoriza seu próprio esforço e sacrifício. O dinheiro acumulado se transforma em uma “conquista heroica”, alcançada a despeito de grandes adversidades. Esse processo mental reforça a percepção de resiliência e força pessoal.

Isenção de Responsabilidade e Realismo

O dekassegui que desencoraja sente que está protegendo os recém-chegados das ilusões que ele próprio pode ter tido no passado, agindo como um “realista”. Essa postura alivia a pressão de ser um “modelo de sucesso” e atenua o sentimento de culpa por estar longe da família e do país de origem.

Proteção e Redução da Concorrência

Existe um aspecto mais sutil no discurso de desencorajamento: a proteção da própria posição no mercado de trabalho. O aumento da oferta de mão de obra em um nicho restrito, como fábricas e empregos “3K”, tende a pressionar os salários para baixo e a deteriorar as condições de trabalho.

Preservando Salários e Condições

Desencorajar a migração é uma maneira, muitas vezes subconsciente, de manter o fluxo de novos trabalhadores baixo. Isso ajuda a preservar a demanda pela força de trabalho já estabelecida, evitando que as empresas japonesas tenham um excesso de candidatos dispostos a aceitar condições ainda piores.

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