Descubra como o drift no Japão domina as montanhas e áreas industriais, unindo adrenalina e a cultura JDM em um estilo de vida único e rebelde.
Para muitos, o Japão é a terra da eficiência e da ordem. Mas, quando o sol se põe e as luzes de neon de Tóquio começam a refletir no asfalto úmido, surge uma subcultura vibrante, barulhenta e movida a queima de borracha. O Drift, a arte de deslizar lateralmente em alta velocidade, não é apenas um esporte; é um estilo de vida que sobrevive entre o asfalto das metrópoles e as curvas perigosas das montanhas.
O Ritual: Daikoku e Tatsumi
Antes de subirem a serra, o ponto de encontro é obrigatório. A Daikoku Parking Area, em Yokohama, funciona como a “Meca” dos entusiastas. É um museu a céu aberto onde JDM clássicos como o Nissan Skyline e o Mazda RX-7 dividem espaço com supercarros europeus. Já a Tatsumi PA, incrustada na via expressa Shuto, oferece um cenário futurista onde o som dos motores ecoa entre os arranha-céus, servindo como o aquecimento perfeito para as “batalhas” que virão.
Touge: Onde as Lendas Nascem
A verdadeira alma do drifting japonês reside no Touge (passagem de montanha). Nessas estradas sinuosas, jovens pilotos testam seus limites em busca da linha perfeita.
Os Templos da Adrenalina:
- Monte Haruna (Gunma): Imortalizado pelo anime Initial D, suas curvas em grampo (hairpins) são o teste supremo de habilidade. É o solo sagrado para quem quer dominar a transferência de peso do carro.
- Passagem Irohazaka (Tochigi): Com uma descida íngreme e vertiginosa, esta estrada exige nervos de aço. Cada curva é uma oportunidade para um erro fatal ou uma manobra épica.
- Hakone Turnpike (Kanagawa): Frequentemente chamada de a “Nürburgring japonesa”, esta via privada oferece alta velocidade e uma vista deslumbrante do Monte Fuji — se você conseguir tirar os olhos da pista.
- Monte Myogi e Usui Pass: Palcos históricos de duelos intensos, onde a proximidade com os guardrails define quem é o mestre do controle.
O Lado Sombrio: Ruínas e Estradas Esquecidas
A busca por privacidade levou os pilotos a explorarem regiões mais remotas. Na região de Tohoku, o drifting assume um tom quase fantasmagórico. Estradas montanhosas abandonadas, cercadas por haikyo (ruínas de hotéis e vilas da era da bolha econômica), tornam-se pistas clandestinas onde o silêncio da floresta é quebrado pelo “estalo” do escapamento e o guincho dos pneus.
Já nas áreas urbanas, o Porto de Nagoia destaca-se como o refúgio industrial. Entre armazéns silenciosos e guindastes gigantes, as amplas avenidas desertas servem de palco para encontros ilegais, longe dos olhos da polícia metropolitana.
O Preço da Liberdade
Embora romantizada por filmes e animes, a prática do drift nas estradas públicas carrega um peso real. A vigilância policial aumentou e as multas são severas. No entanto, para a juventude que frequenta esses locais, o risco é parte da mística. Não se trata apenas de velocidade, mas de uma rebeldia estética contra uma sociedade rígida.
“No Touge, você não está correndo contra outra pessoa, mas contra o seu próprio medo.” – Relato comum entre pilotos locais.
O drift continua a evoluir, migrando cada vez mais para circuitos profissionais, mas enquanto houver uma curva fechada em uma montanha deserta perto de Tóquio, o espírito do Touge permanecerá vivo.
**Portal Mundo-Nipo**
Sucursal Japão
Jonathan Miyata é Correspondente Internacional do Canal Mundo-Nipo em Tóquio. Graduado em Jornalismo pela Universidade de São Paulo e com Pós-Graduação em Estudos Asiáticos pela Universidade de Tóquio (Todai). Atua na cobertura de política, tecnologia e cultura japonesa há mais de 8 anos, com passagens pelo grupo Abril antes de integrar o Mundo-Nipo.
Reportagem: Esta é uma descrição de eventos e ocorrências cujo conteúdo é rigorosamente fundamentado em dados e fatos. As informações são verificadas por meio da observação direta do repórter ou mediante consulta a fontes jornalísticas consideradas idôneas e confiáveis.
