Uma pesquisa nacional no Japão aponta alta aprovação para políticas mais rigorosas contra estrangeiros. Entenda as preocupações com aquisição de imóveis e costumes sociais.
Uma pesquisa nacional recente, conduzida pelo jornal Mainichi Shimbun, trouxe à luz preocupações japonesas sobre estrangeiros, abrangendo desde a compra de terrenos até questões de conduta social. Este levantamento, realizado em novembro, surge em um momento em que o endurecimento das medidas relativas a estrangeiros se tornou um pilar fundamental da alta popularidade do gabinete da primeira-ministra Sanae Takaichi. O estudo indica que 71% dos entrevistados aprovam essa política, um número que supera em muito os 10% de desaprovação.
Alta Aprovação e o Desejo de Regulamentação
O apoio a medidas mais rigorosas é notavelmente amplo, manifestando-se em diversas faixas etárias. Em quase todos os grupos abaixo de 70 anos, a aprovação ultrapassa 70%. Analisando por gênero, 78% dos homens e 65% das mulheres expressaram apoio. Este índice robusto sinaliza um consenso crescente na sociedade sobre a necessidade de reavaliar a situação atual.
A principal motivação para essa aprovação reside no desejo de rever as regras sobre a aquisição de imóveis no Japão por estrangeiros. Muitos comentários revelaram a preocupação de que o sistema atual permite a compra livre de terras, o que, na visão dos entrevistados, exige a implementação de restrições. Além disso, a segurança nacional emergiu como um fator significativo, com foco na regulamentação de áreas sensíveis, como fontes de água e recursos naturais.
Especulação Imobiliária e o Impacto Urbano
No entanto, a insatisfação mais citada pelos participantes da pesquisa não foi a segurança, mas sim a “aquisição para fins especulativos”. Muitos veem essa prática como a causa de “preços exorbitantes de apartamentos e aumentos de aluguel nos centros urbanos”. Observações como “os preços dos terrenos sobem mais do que o necessário” refletem uma crescente sensação de crise. Há um temor real de que a compra de imóveis por estrangeiros acabe por torná-los inacessíveis para os cidadãos japoneses.
Desafios de Convivência e Conduta Social
Além das questões econômicas e de segurança, um número significativo de entrevistados manifestou preocupação com violações de boas maneiras e questões de convivência. Comentários apontam para o “desconforto diário com turistas e residentes estrangeiros”, sugerindo problemas ligados tanto ao turismo excessivo quanto a desentendimentos na vizinhança. Isso reforça o desejo de “medidas dissuasoras” para aqueles que não seguem os costumes sociais e ameaçam a vida cotidiana.
Por outro lado, alguns entrevistados expressaram a esperança de que políticas mais rigorosas possam, de fato, reduzir problemas, desde que os estrangeiros “sigam as regras e coexistam com os japoneses”. Esta dualidade reflete um equilíbrio delicado entre a necessidade de ordem e o desejo de harmonia.
O Debate sobre Xenofobia e Mão de Obra
A política de endurecimento não está isenta de críticas. Entre os que desaprovam as medidas, a principal preocupação é o fomento da xenofobia e da discriminação. Argumentos de que a política “apenas infringe os direitos humanos” e que a exclusão generalizada é discriminatória são recorrentes. Este grupo também ressalta a dependência da sociedade em relação aos trabalhadores estrangeiros, enfatizando que o Japão não pode funcionar sem eles, dada a sua população em declínio e a notória escassez de mão de obra.
Existe um reconhecimento mútuo, mesmo entre os críticos, de que alguma regulamentação — especialmente na aquisição de imóveis no Japão — pode ser necessária. Contudo, o principal desafio é implementar tais medidas sem que o tom se torne excessivamente xenófobo ou exclusivo. A pesquisa aponta para a interconexão complexa entre a necessidade de novas regras e as preocupações éticas em torno da discriminação. A capacidade de liderança da primeira-ministra Takaichi será testada na implementação dessas políticas, buscando um equilíbrio que aborde as ansiedades públicas sem negligenciar a necessidade de trabalhadores estrangeiros ou os princípios de convivência.


**Portal Mundo-Nipo**
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Jonathan Miyata é Correspondente Internacional do Canal Mundo-Nipo em Tóquio. Graduado em Jornalismo pela Universidade de São Paulo e com Pós-Graduação em Estudos Asiáticos pela Universidade de Tóquio (Todai). Atua na cobertura de política, tecnologia e cultura japonesa há mais de 8 anos, com passagens pelo grupo Abril antes de integrar o Mundo-Nipo.
Reportagem: Esta é uma descrição de eventos e ocorrências cujo conteúdo é rigorosamente fundamentado em dados e fatos. As informações são verificadas por meio da observação direta do repórter ou mediante consulta a fontes jornalísticas consideradas idôneas e confiáveis.
Fonte: Mainichi Shimbun, Gabinete da Primeira-Ministra do Japão, Notícias do Japão, Analistas Políticos Internacionais
Edição e publicação responsável: Mundo-Nipo Notícias
