Descubra como protestos “NO HATE” em Osaka confrontam a crescente xenofobia no Japão impulsionada por políticos. Entenda o impacto da retórica anti-estrangeiros e a luta por uma lei antidiscriminação.
Uma onda de protestos contra a retórica anti-estrangeiros tem tomado as ruas de Osaka, levantando sérias preocupações sobre a discriminação e o impacto na vida dos imigrantes. Em um dia escaldante de 31 de agosto, a estação JR Osaka foi palco de uma manifestação fervorosa contra o discurso xenófobo que marcou a recente campanha eleitoral, na qual o partido de direita Sanseito obteve ganhos significativos. Este cenário reacende o debate sobre a inclusão e o tratamento de estrangeiros no Japão, especialmente para aqueles que escolheram o país para viver e trabalhar.
O Crescimento da Retórica Anti-Estrangeiros no Japão
A eleição para a Câmara dos Conselheiros em julho expôs uma preocupante ascensão de partidos com discursos nacionalistas. O Sanseito, com seu slogan “Japoneses em Primeiro Lugar”, conquistou mais de 7,4 milhões de votos, ficando em terceiro lugar na representação proporcional. Em Osaka, a candidata Chisato Miyade, do Sanseito, surpreendeu ao garantir a terceira cadeira em disputa. Durante sua campanha, Miyade afirmou que “os impostos não são usados em benefício dos cidadãos japoneses, mas, por algum motivo, são gastos com estrangeiros recém-chegados”. Tais declarações, embora insistam na proteção de minorias sexuais, sugerem que a proteção de um pequeno grupo privaria outros cidadãos de seus direitos, uma visão que fomenta preconceito e divisão.
Para Mi, uma das organizadoras da manifestação “Osaka NO HATE”, o avanço de partidos com tais ideologias é assustador. Ela e seus amigos mobilizaram-se para criar um espaço de protesto contra a discriminação, demonstrando a crescente inquietude da sociedade civil diante desse cenário.
A Realidade dos Imigrantes e a Luta Contra a Discriminação
A visão de que proteger os direitos das minorias é uma “perda” para a maioria é desmistificada por dados concretos. A grande maioria dos impostos é direcionada aos cidadãos japoneses, e leis que protegem pessoas com deficiência, por exemplo, tornam a sociedade mais acolhedora para todos. A ideia de que estrangeiros recebem tratamento preferencial é um mito que J-Rawr, estudante universitário, artista e imigrante de segunda geração em Osaka, fez questão de desmentir em seu discurso.
“Nasci e cresci aqui. Vivo minha vida saindo com os amigos como qualquer outra pessoa, frequentando a faculdade, trabalhando meio período, passando tempo com meus entes queridos e cultivando meus interesses como DJ e produtor de hip-hop. Alguém, por favor, me explique como estou recebendo tratamento preferencial!”, declarou J-Rawr à multidão, que respondeu com aplausos entusiasmados. Sua fala ressalta a normalidade da vida dos imigrantes e a falta de qualquer privilégio que justifique a retórica xenófoba.
A revisão de 2024 da Lei de Controle de Imigração e Reconhecimento de Refugiados do Japão, que ampliou as condições para a anulação da residência permanente – incluindo atrasos no pagamento de impostos ou contribuições para a previdência social –, agrava a preocupação dos imigrantes. J-Rawr expressou seu temor de ser tratado de forma diferente, mesmo tendo nascido e crescido no Japão, e apelou por uma lei abrangente contra a discriminação.
Mobilização Social e a Busca por uma Lei Antidiscriminação
A luta contra a discriminação no Japão não se limita a um único evento. Em 19 de outubro, um segundo protesto “NO HATE” foi realizado em Osaka, reafirmando o compromisso de muitos em construir uma sociedade mais inclusiva. Lee Sinhae, co-líder da “Associação para refletir sobre o problema do ódio em Higashiosaka”, enfatizou o desejo de tranquilizar os estrangeiros no Japão, mostrando-lhes que existem pessoas que desejam conviver pacificamente.
A associação, fundada em abril, busca ativamente maneiras de combater a discriminação localmente. Seu principal objetivo é a criação de uma lei que proíba discursos de ódio, com penalidades, em Higashiosaka. Lee acredita que essa lei poderia combater diversos tipos de discriminação, trazer tranquilidade aos estrangeiros nascidos no Japão que só falam japonês e tornar a sociedade um lugar confortável para os recém-chegados do exterior. “Aqueles que têm direitos inerentes não enfrentam dificuldades, então por que não melhorar os direitos básicos de todos?”, questionou Lee, defendendo uma sociedade mais justa e igualitária para todos.
A crescente mobilização e o apelo por uma legislação antidiscriminação são um sinal claro de que a sociedade japonesa está atenta e disposta a lutar contra a xenofobia. Para os dekasseguis, essas ações representam um fio de esperança e a garantia de que não estão sozinhos na busca por um ambiente mais acolhedor e livre de preconceitos.


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