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Ser Transgênero no Brasil é difícil, Imaginem como é no Japão

- 29 de julho de 2025
Conheça a luta de Miki por reconhecimento de gênero no Japão. Entenda os desafios legais e a busca por direitos transgênero em um país onde o casamento igualitário ainda não é lei. Nota: a foto é meramente ilustrativa

Conheça a luta de Miki por reconhecimento de gênero no Japão. Entenda os desafios legais e a busca por direitos transgênero em um país onde o casamento igualitário ainda não é lei.

Miki (pseudônimo), uma mulher trans na casa dos 50 anos, compartilha sua história de vida e a complexa luta por reconhecimento de gênero legal no Japão. Nascida e criada como homem, Miki começou sua transição há mais de 10 anos, adotando um nome e estilo de vida femininos. No entanto, sua aparência difere de seu gênero de nascimento, tornando a prova de sua identidade um desafio constante. Casada com Chiro há quase uma década, Miki enfrenta uma barreira legal crucial: a lei japonesa impede a mudança de gênero para pessoas com disforia de gênero que são casadas.


Entendendo a Lei Japonesa sobre Gênero

A Lei do Japão sobre Casos Especiais no Tratamento do Status de Gênero para Pessoas com Transtorno de Identidade de Gênero, promulgada em 2004, estabelece condições rigorosas para a mudança de gênero legal. Originalmente, essas condições incluíam ter pelo menos 18 anos, ser solteiro, não ter filhos menores, ser estéril e ter genitália semelhante à do gênero alvo. Em 2023, a Suprema Corte considerou a exigência de esterilização inconstitucional.

Miki preenche todos os requisitos, exceto o de ser casada. Em julho de 2024, ela buscou uma audiência no Tribunal de Família de Kyoto para obter a mudança de sexo legal enquanto casada, mas seu pedido foi rejeitado em março deste ano pela juíza Akiko Nakamura. A decisão de Nakamura afirma que o requisito de ser solteiro “não pode ser imediatamente interpretado como inconstitucional e inválido”, apesar de reconhecer que isso força as pessoas a escolher entre o divórcio e a mudança de gênero ou aceitar as desvantagens de ter gêneros sociais e legais diferentes enquanto casadas. A justificativa para a exigência é evitar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, que não é reconhecido pela legislação japonesa atual.


Precedentes e Desafios Contínuos

A decisão do Tribunal de Família de Kyoto segue um precedente de 2020, quando a Suprema Corte se recusou a conceder uma petição de redesignação de gênero para um casal, mantendo a constitucionalidade da exigência baseada na “consideração de não perturbar a ordem atual do casamento, na qual o casamento é reconhecido apenas entre heterossexuais”. Essa decisão ainda não foi anulada.

O Japão é o único país do G7 que ainda não legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo ou as uniões civis. A decisão judicial desfavorável a Miki representa um revés após algumas vitórias judiciais recentes para a comunidade LGBTQIA+. Desde a decisão da Suprema Corte de 2023, os tribunais de família têm permitido a mudança de gênero mesmo sem cirurgia de esterilização, com pelo menos 54 casos em 2024. Além disso, o Tribunal Superior de Hiroshima, em julho de 2024, expressou “suspeita de inconstitucionalidade” sobre a exigência da aparência dos órgãos genitais.


O Futuro do Reconhecimento de Gênero e Casamento Igualitário no Japão

Ações judiciais exigindo a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo estão em andamento em várias cidades japonesas, incluindo Sapporo, Tóquio, Nagoya, Osaka e Fukuoka. Em março de 2021, o Tribunal Distrital de Sapporo declarou a lei atual que não reconhece o casamento entre pessoas do mesmo sexo inconstitucional. Desde então, embora as decisões dos tribunais distritais tenham sido divididas, todos os cinco tribunais superiores a declararam inconstitucional em março deste ano.

Yasuhiko Watanabe, professor de direito de família da Universidade Meiji, aponta para o exemplo da Alemanha, que aboliu a exigência de união estável para mudança de gênero em 2008 e aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo em 2017. Ele enfatiza a necessidade de o Japão eliminar os requisitos da lei especial e expandir o sistema de aconselhamento e apoio.

Miki, determinada, entrou com um recurso no Tribunal Superior de Osaka em 1º de abril contra a decisão do Tribunal de Família de Kyoto. Chiro, que se identifica como heterossexual, apoia Miki incondicionalmente, reafirmando que o amor e a felicidade são conceitos individuais. Juntas, elas continuam a lutar contra o que consideram uma lei injusta, buscando um futuro onde a identidade de Miki seja plenamente reconhecida.

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