Entenda a profunda crise no governo japonês. Membros do PLD articulam a destituição do premiê Shigeru Ishiba, que vê seu poder ameaçado. Saiba mais.
A crise no governo japonês se intensifica à medida que membros do Partido Liberal Democrata (PLD) se mobilizam para destituir o primeiro-ministro Shigeru Ishiba. A pressão coloca o premiê, que também preside o partido, em uma posição delicada, enquanto ele adia o anúncio de sua renúncia e enfrenta uma rebelião interna sem precedentes.
A situação de Ishiba ficou evidente na última reunião geral do PLD, onde ele evitou mencionar sua saída, abrindo caminho para uma manobra histórica: a invocação do Artigo 6, parágrafo 4, da Constituição do partido, um dispositivo nunca antes utilizado para antecipar a eleição presidencial interna.
A Pressão Interna pela Renúncia de Ishiba
No início da reunião na sede do PLD, Ishiba tentou desviar o foco para temas como tarifas americanas e políticas agrícolas. “Continuarei a assumir a responsabilidade pelo Japão”, declarou, pedindo paciência. No entanto, o clima rapidamente se tornou tenso.
A portas fechadas, as críticas foram diretas. “Se quisermos unir o partido, é importante realizarmos uma eleição presidencial adequada”, afirmou o deputado Hiroaki Tabata. A maioria dos presentes ecoou esse sentimento, exigindo a renúncia de Ishiba ou uma nova eleição. O apoio à sua permanência foi mínimo.
O Voto Decisivo e o Isolamento do Premiê
Em resposta à pressão, a presidente da reunião, Haruko Arimura, direcionou o debate para a antecipação da corrida presidencial. A proposta ganhou apoio imediato e a reunião votou para solicitar formalmente que o comitê de administração eleitoral inicie os procedimentos. A decisão foi recebida com aplausos, selando o isolamento de Ishiba, que se manteve em silêncio sobre o tema.
Fontes do partido revelam que a ação foi meticulosamente planejada. “As bases já estavam preparadas antes do início da reunião”, disse um parlamentar sênior, descrevendo o evento como “um raio do nada” para um Ishiba totalmente despreparado.
O Estopim da Crise no Governo Japonês
A atual crise no governo japonês foi, em parte, causada pelas próprias ações de Ishiba. Sua postura vaga sobre quando deixaria o cargo já gerava desconforto.
Contudo, a gota d’água foi sua tentativa de negociar diretamente com Yoshihiko Noda, presidente do opositor Partido Democrático Constitucional, sobre a regulamentação de doações corporativas. A manobra, feita sem consultar o PLD, foi vista como uma traição e uma tentativa de se perpetuar no poder, acendendo um estopim de desconfiança dentro de seu próprio partido.
O Mecanismo Inédito para Destituir o Presidente
O dispositivo acionado contra Ishiba é poderoso e sem precedentes. O Artigo 6, parágrafo 4, da Constituição do PLD estipula que, se mais da metade dos membros da Dieta do partido e dos representantes provinciais solicitarem uma nova eleição, ela deve ser realizada.
Para acionar a cláusula, são necessários 172 votos — a maioria dos 342 membros com direito a voto. “O clima atual deixa claro qual será o veredito”, confidenciou um membro do partido. A expectativa geral é que Ishiba renuncie antes que a moção seja oficialmente aplicada.
O comitê eleitoral presidencial agora tem a tarefa de preencher seis vagas e, após o feriado de Bon, definir como e quando consultará os membros para oficializar o processo de sucessão.


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