
Crescem os casos de sarampo no Japão e a desinformação online sobre a gravidade da doença. Entenda os riscos reais e a importância da vacinação.
O número de casos de sarampo no Japão está apresentando um aumento preocupante em todo o país. Paralelamente a este crescimento, observa-se a disseminação de informações falsas nas redes sociais, minimizando a gravidade da doença. Em um momento crucial, antecedendo a abertura da Expo Mundial em Osaka, o jornal Mainichi Shimbun realizou uma verificação de fatos para esclarecer a situação do sarampo no Japão.
Desinformação Viraliza nas Redes Sociais
Em meados de março, uma publicação na plataforma X alcançou mais de 1 milhão de visualizações em apenas dois dias. A postagem descrevia o [sarampo] como uma doença comum da infância, com sintomas menos severos quando contraída nessa fase da vida.
Em resposta, uma “nota da comunidade” foi adicionada para corrigir a alegação falsa, e diversos usuários comentaram sobre os perigos reais do sarampo. No entanto, muitos também concordaram com a publicação original, compartilhando relatos como: “Antigamente, era tão comum que as crianças brincavam juntas mesmo infectadas para transmiti-la” e “Os japoneses ficaram mais fracos”. Takashi Nakano, professor especialista em pediatria da Faculdade de Medicina de Kawasaki e especialista em doenças infecciosas, enfatizou: “O sarampo sempre foi uma doença fatal”.
A Gravidade Real do Sarampo e suas Complicações
O sarampo é reconhecido como um dos agentes mais infecciosos entre todos os patógenos. Frequentemente, causa complicações sérias, incluindo pneumonia e encefalite, que resultam em morte em aproximadamente 1 a cada 1.000 pacientes. Além disso, a panencefalite esclerosante subaguda (PEES), também conhecida como doença de Dawson, é uma doença neurológica progressiva que pode se desenvolver anos após a infecção pelo vírus do sarampo.
Contrapontos à Minimização da Doença
Em resposta à afirmação da gravidade do [sarampo], alguns citam o número relativamente baixo de casos recentes ou a sua categorização ao lado da gripe sazonal.
No entanto, dados do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas do Japão indicam que, até 19 de março deste ano, 32 pessoas foram infectadas com sarampo. Este número já supera o ritmo do ano anterior, contrastando com os períodos de 2020 a 2022 durante a pandemia de coronavírus, quando os casos se mantiveram em dez ou menos, e com os dois anos subsequentes, com menos de 50 casos.
Histórico de Controle e Risco de Reemergência
O professor Nakano reconhece que o número de casos de sarampo costumava ser significativamente maior. Em 2008, quando os levantamentos em larga escala foram iniciados, havia mais de 10.000 pacientes. Posteriormente, o governo nacional implementou medidas abrangentes de combate à doença. As taxas de vacinação aumentaram através de campanhas regulares e outros meios, e vigilância epidemiológica foi intensificada para cada caso isolado. Como resultado, o número de infecções diminuiu drasticamente, e em 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o sarampo como “eliminado” no Japão.
Contudo, Nakano adverte: “Se a taxa de vacinação cair, o vírus poderá se estabelecer novamente no Japão e a certificação de eliminação poderá ser revogada”.
Em março, a OMS alertou para um aumento significativo de casos de sarampo na Europa e na Ásia Central em 2024, o maior desde 1997, elevando o risco de uma pandemia global.
Eficácia da Vacinação e Período de Incubação
Sobre a alegação de que o sarampo é leve se detectado precocemente, Nakano esclareceu: “É verdade que, uma vez contraído, a pessoa adquire forte imunidade”, acrescentando: “No entanto, muitas crianças contraíram a doença em uma época com baixas taxas de vacinação, resultando em cerca de 100 mortes infantis anuais. Para uma doença como essa, a prevenção através da vacinação é fundamental”.
Desde a pandemia de coronavírus, observa-se uma crescente resistência ou desconfiança em relação às vacinas em geral. Nakano destaca a diferença na eficácia das vacinas contra o sarampo e contra doenças respiratórias como a COVID-19 e a gripe. Enquanto a gripe tem um período de incubação de aproximadamente dois dias, o do sarampo é de cerca de 11 dias. Os sintomas surgem após a multiplicação do vírus nas mucosas respiratórias e sua disseminação pelo corpo em um processo chamado viremia.
A imunidade proporcionada pelas vacinas contra doenças com longos períodos de incubação tende a ser mais robusta. Não existe cura para o sarampo, apenas tratamentos para aliviar os sintomas, o que reforça a importância da prevenção.
Nakano conclui com um apelo à conscientização: “O Japão reduziu o número de infectados por [sarampo] a quase zero através de altas taxas de vacinação. Em vez de se deixar influenciar por tendências sociais, é crucial considerar a presença de pessoas imunocomprometidas e crianças não vacinadas ao seu redor”.


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