Desafios Modernos: Impacto do Clima na Produção de Saquê. Entenda como as mudanças climáticas afetam a colheita de arroz.
Na vibrante cidade de Tóquio, uma cervejaria histórica, que remonta à era dos samurais, continua a preservar uma tradição secular. Koichi Maesako, mestre cervejeiro de 40 anos da Ishikawa Shuzou, cuidadosamente mexe uma mistura branca em um tanque gigante, utilizando uma pá de madeira de 3 metros. Esta mistura, composta por arroz, fermento natural, koji (um mofo culinário) e água, está em processo de fermentação há 20 dias e se transformará em saquê em uma semana.
Esta técnica ancestral de produção de saquê, que a UNESCO está prestes a reconhecer como Patrimônio Cultural Imaterial, é uma prática que Maesako e sua equipe mantêm viva, apesar dos desafios modernos. O clima atípico tem prejudicado a colheita de arroz, elevando os custos e afetando a qualidade do grão, o que torna a produção mais desafiadora.
Além disso, os fabricantes de saquê enfrentam uma queda nas vendas no mercado interno, à medida que os consumidores japoneses se voltam para coquetéis e outras bebidas alcoólicas. “A situação é muito mais difícil em comparação aos anos anteriores”, comenta Maesako, destacando as dificuldades enfrentadas pela indústria.
No entanto, Maesako vê esperança no reconhecimento da UNESCO, que pode impulsionar a demanda internacional por saquê, assim como ocorreu com o “washoku”, a culinária tradicional japonesa, que ganhou popularidade global após ser listada como patrimônio vivo em 2013. “Espero que o mesmo aconteça com o saquê”, diz ele, observando um aumento nas exportações de sua cervejaria.
O método de fabricação de saquê, conhecido como “San-Dan-Jikomi”, é único por sua preparação em três etapas, permitindo múltiplos processos de fermentação simultâneos em um único recipiente. Esta técnica não só preserva a história, mas também a transforma em uma herança cultural viva.
Robert Brown, um visitante americano, expressa sua admiração pela tradição: “É fascinante ver e entender como tudo se junta. Transformar a história do Japão em uma herança cultural é incrível.”
Apesar dos desafios, Maesako acredita que o saquê continua intrinsecamente ligado à cultura japonesa. “O saquê está presente em celebrações, no Ano Novo e até em momentos tristes, como funerais. A cultura do saquê japonês é a cultura do próprio Japão.”
A expectativa é que a técnica de fermentação seja formalmente aprovada em uma sessão do comitê da UNESCO no Paraguai, marcando a 23ª entrada do Japão na lista de Patrimônio Cultural Imaterial.
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