Debate sobre eutanásia no Japão levanta questões éticas e sociais. Pessoas com deficiência temem pressões para morrer.
A eutanásia no Japão tem provocado discussões intensas nos últimos anos, especialmente após casos de pacientes com doenças degenerativas como a ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica). O debate envolve questões legais, éticas e sociais — e revela preocupações profundas entre pessoas com deficiência.
Em 2019, uma paciente com ELA publicou em redes sociais um pedido para morrer com dignidade. Pouco tempo depois, foi morta por dois médicos a seu pedido. O caso, que resultou na prisão dos profissionais, despertou um debate nacional sobre a legalização da eutanásia no Japão.
Hiromi Sato, também diagnosticada com ELA, vive em Tóquio e compartilha um ponto de vista crítico sobre o tema. Após anos sem diagnóstico e sem suporte, sua vida mudou com o acesso à assistência diária. Para ela, o apoio humano é essencial para garantir qualidade de vida e não apenas um alívio pela morte.
Outros casos geraram comoção. Um médico, julgado por auxiliar uma paciente a morrer, disse ter agido por compaixão após ela expressar seu desejo por meio de uma placa alfabética. A repercussão nas redes sociais foi mista: muitos se solidarizaram, mas outros alertaram para os riscos de transformar o sofrimento em justificativa para o fim da vida.
Toki Nose, tetraplégico desde o nascimento, e Miyako Obu, com doença neurológica degenerativa, reforçam esse alerta. Ambos vivem com limitações severas, mas com apoio conseguiram alcançar autonomia, educação e trabalho. Eles temem que a legalização da eutanásia, sob o pretexto de autonomia, possa se tornar uma pressão social para morrer, especialmente em uma cultura que valoriza o conformismo.
A escritora Mimi Kodama lembra que vários países legalizaram a prática desde 2008, enquanto o bioeticista Yasunori Ando alerta para a expansão progressiva dos critérios nesses locais. A preocupação é que o respeito à escolha individual se torne uma obrigação silenciosa de não ser um fardo.
Para Obu, a medicina deve oferecer soluções para viver com dignidade, e não apenas para morrer. Ela teme pelos que não conseguem se expressar ou estão em situação de vulnerabilidade extrema.
O debate sobre a eutanásia no Japão deve, portanto, considerar não apenas os casos extremos de sofrimento, mas ouvir as vozes de pessoas com deficiência que lutam para viver plenamente. O desafio ético é garantir autonomia sem transformar o direito de morrer em um dever de desaparecer.


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