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O luto dos familiares sem a certeza da morte

- 27 de dezembro de 2025
Entenda as causas do abandono familiar entre brasileiros no Japão e como o silêncio de anos impacta milhares de famílias no Brasil.

Entenda as causas do abandono familiar entre brasileiros no Japão e como o silêncio de anos impacta milhares de famílias no Brasil.

O que começa com uma despedida esperançosa no Aeroporto de Guarulhos, muitas vezes termina em um silêncio absoluto que atravessa décadas. No universo da comunidade nikkei brasileira, existe uma ferida aberta raramente discutida em público: a dos pais e maridos que partiram para trabalhar no Japão (dekasegis) e simplesmente cortaram todos os laços com suas famílias no Brasil.

Do Suporte ao Esquecimento

A dinâmica costuma seguir um padrão quase ritualístico. Nos primeiros meses, as cartas (e mais recentemente, mensagens de WhatsApp) são frequentes, acompanhadas pelas remessas de ienes que sustentam a casa e a educação dos filhos.

Com o tempo, no entanto, a comunicação sofre uma “erosão”:

  • A frequência diminui: As ligações semanais tornam-se mensais, depois sazonais.
  • As justificativas surgem: O cansaço das jornadas de 12 horas (zangyo) e o alto custo de vida no Japão servem como escudo para a ausência.
  • O corte final: As remessas financeiras param abruptamente e os meios de contato (números de telefone ou endereços de províncias como Gunma ou Aichi) deixam de funcionar.

O Vácuo Jurídico e Emocional

Para a esposa e os filhos que ficam, o desaparecimento cria um estado de luto suspenso. Sem uma confirmação de óbito, mas sem a presença física, a família vive em um limbo.

“Não sabemos se ele sofreu um acidente de trabalho, se caiu na marginalidade ou se simplesmente decidiu que sua vida no Brasil não valia mais o esforço,” relata a psicóloga clínica especialista em migração, que prefere não se identificar.

Muitos desses homens acabam constituindo uma “segunda vida” no Japão, casando-se com outras mulheres (brasileiras ou japonesas) e ocultando o passado. Outros, por vergonha de não terem atingido o sucesso financeiro prometido, preferem o desaparecimento à “humilhação” de retornar ao Brasil sem economias.

As Barreiras para o Reencontro

A busca por esses familiares é dificultada por vários fatores:

  1. Privacidade Japonesa: O sistema de registro civil japonês (Koseki Tohon) é rigoroso e o acesso a informações por terceiros, mesmo parentes estrangeiros, é burocrático.
  2. O Medo do “Ato de Cobrança”: Muitos desaparecidos evitam ser encontrados por medo de processos de pensão alimentícia acumulados por anos.
  3. A Barreira do Idioma: Muitas esposas abandonadas não falam japonês, o que as impede de acionar órgãos locais ou buscar ajuda em prefeituras nipônicas.

O Impacto na Nova Geração

Os filhos do “abandono dekasegi” crescem com uma identidade fragmentada. Além da ausência da figura paterna, há o peso do estigma dentro da comunidade nipo-brasileira, onde a preservação da imagem familiar é um valor central.


Como buscar ajuda?

Se você vive essa situação, existem caminhos que podem ser explorados:

  • Consulados do Brasil no Japão: Podem auxiliar em casos de desaparecimento onde há suspeita de crime ou acidente grave.
  • Associações Nikkeis (Kenjinkais): Muitas vezes servem como pontes informais de informação entre províncias.
  • Auxílio Jurídico Internacional: Para pedidos de pensão alimentícia que podem ser executados via cooperação internacional.

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Autor

**Portal Mundo-Nipo**
Sucursal Japão

Jonathan Miyata é Correspondente Internacional do Canal Mundo-Nipo em Tóquio. Graduado em Jornalismo pela Universidade de São Paulo e com Pós-Graduação em Estudos Asiáticos pela Universidade de Tóquio (Todai). Atua na cobertura de política, tecnologia e cultura japonesa há mais de 8 anos, com passagens pelo grupo Abril antes de integrar o Mundo-Nipo.

Reportagem: Esta é uma descrição de eventos e ocorrências cujo conteúdo é rigorosamente fundamentado em dados e fatos. As informações são verificadas por meio da observação direta do repórter ou mediante consulta a fontes jornalísticas consideradas idôneas e confiáveis.

Fonte: Portal G1, BBC News Brasil, Alternativa Online, Ministério das Relações Exteriores, IPC Digital

Edição e publicação responsável: Mundo-Nipo Notícias

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