Elisa Ovalles, 23 anos, jovem venezuelana, estudou quatro anos em Kyoto viveu momentos difíceis devido à pandemia. Após ter-se desfeito de toda a infraestrutura adquirida desde o início de sua estada (apartamento, telefone, conta bancária, trocado ienes por euros, etc.) voou para o Aeroporto Internacional de Tóquio (Haneda), tinha como destino final as Ilhas Canárias na Espanha.
Chegando em Haneda teve uma grande surpresa, as luzes estavam apagadas, poucos cafés abertos, o balcão do check-in aberto. No balcão da Turkish Airways foi informada que não poderia prosseguir a viagem devido a sua nacionalidade, Venezuela.
Na noite anterior, autoridades espanholas tinham encaminhado uma lista de países cujos passageiros estavam permitidos para entrada no país, a Venezuela não constava nesta lista. Apesar de ter passado seus últimos quatro anos no Japão, o problema era a sua nacionalidade.
Argumentou que os venezuelanos não precisam de visto para entrada na Espanha, mas o argumento não teve efeito.
De repente, Elisa se viu sem visto japonês, sem visto espanhol, sem possibilidade para retornar à Venezuela.
A situação crítica de Elisa é muito parecida com o protagonista (Tom Hanks) do filme “O Terminal” (2004), dirigido por Steven Spielberg. Neste filme Tom Hanks fica ilhado no aeroporto de Nova Iorque, não podia sair do aeroporto devido a falta de visto, não conseguia retornar ao seu país de origem (Krakozhia) devido a um golpe de estado, seu país deixou de existir repentinamente.
O filme favorito de Elisa nunca foi “O Terminal”, sempre foi a animação “A viagem de Chihiro”, (2001) de Hayao Miyazaki, que narra as aventuras de uma garota japonesa em uma cidade cheia de mistérios. Este filme foi a grande inspiração para ela estudar no Japão.
Elisa estudou japonês em sua adolescência em Caracas, cursou Relações Internacionais na Universidade Ritsumeikan, em Kyoto.
A crise econômica venezuelana fez com que 5 milhões de pessoas deixassem o país, a maioria não teve o acesso da estrutura familiar que a dela.
2020 seria um ano de realizações, os pais de Elisa viriam para a formatura no mês de março e juntos viajariam pelo Japão. Junto com os pais retornariam à Venezuela para depois embarcar para a Itália, a fim de ingressar no pós-graduação. Nada disso aconteceu devido o fechamento no dia 11 de março.
“Minha família não conseguiu vir e eu não consegui voltar”.
Após a frustrada tentativa de ida a Espanha chorou por horas, de raiva, de tristeza, de tudo, contou.
Conseguiu trocar os euros por ienes num caixa eletrônico, conseguiu pagar uma noite de estada em um hotel. No dia seguinte deslocou-se até as embaixadas da Venezuela, Espanha e da Itália. Nenhum uma das três embaixadas apresentaram uma solução.
No momento da entrevista realizada pela UOL, Elisa estava na prefeitura de Tóquio, esperava pelo registro de seu novo endereço no Zairyu Card. Percebeu que haviam inúmeros estrangeiros, fato que deixou um pouco mais conformada com a situação.
Elisa pode se considerar uma privilegiada quando comparada aos demais venezuelanos, irá estudas na escola de negócios SDA Bocconi, na Itália.
Portal Mundo-Nipo
https://www.uol.com.br/nossa/noticias/redacao/2020/09/01/como-no-filme-o-terminal-jovem-vive-limbo-migratorio-no-japao.htm