PARIS – O grupo mercenário russo Wagner assinou em 2022 um contrato com uma empresa chinesa para adquirir dois satélites e usar suas imagens, auxiliando seu trabalho de inteligência enquanto a organização tentava impulsionar a invasão da Ucrânia pela Rússia, de acordo com um documento visto por repórteres.
O contrato foi assinado em novembro do ano passado, mais de meio ano após a invasão da Ucrânia por Moscovo, na qual o grupo Wagner, liderado pelo seu fundador, Yevgeny Prigozhin, desempenhava um papel fundamental no campo de batalha.
As imagens de satélite também foram utilizadas para apoiar as operações da Wagner em África e até mesmo o seu motim fracassado em junho, que levou agora à dissolução de facto do grupo, seguida pela morte de Prigozhin e outras figuras chave num acidente aéreo em agosto, disse uma fonte de segurança europeia.
De acordo com um contrato, escrito em inglês e russo e assinado em 15 de novembro de 2022, a empresa Beijing Yunze Technology Co. Ltd. vendeu dois satélites de observação de alta resolução pertencentes à gigante espacial chinesa Chang Guang Satellite Technology (CGST) para a Nika-Frut, uma empresa que então fazia parte do império comercial de Prigozhin.
O preço de mais de US$ 30 milhões (235 milhões de yuans) foi para os próprios satélites e serviços adicionais.
O contrato também prevê o fornecimento de imagens sob demanda, o que permitiu à Wagner obter imagens de satélite tanto da Ucrânia como de áreas na África onde os seus mercenários estavam ativos, incluindo Líbia, Sudão, República Centro-Africana e Mali, disse a fonte de segurança europeia.
Segundo esta fonte, Wagner chegou a encomendar imagens do território russo no final de maio deste ano, ao longo de todo o percurso entre a fronteira ucraniana e Moscovo que foi apreendido pelas forças de Wagner no final de junho, durante o breve motim.
Gregory Falco, pesquisador aeroespacial da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, disse que o uso da tecnologia chinesa por Wagner mostrou os limites da Rússia no setor, apesar de sua reputação histórica como uma grande potência espacial que remonta à União Soviética.
Os repórteres conseguiram verificar a identidade do signatário do contrato do lado russo – Ivan Mechetin. Segundo múltiplas fontes, o homem de 40 anos é o diretor geral da empresa Nika-Frut, uma subsidiária do grupo Concord então liderado por Prigozhin.
“A Nika-Frut está registrada como uma empresa de comércio de alimentos, mas faz muitas outras coisas. Esta é uma tendência conhecida no mundo de Prigozhin”, disse Lou Osborn, da organização não-governamental de investigação digital All Eyes on Wagner (AEOW).
O monitor disse que Beijing Yunze atua como subsidiária para a aquisição ou venda de tecnologias de defesa em nome de Pequim.
A empresa Head International tem, segundo múltiplas fontes ocidentais, um acordo de marketing com o poderoso fabricante de satélites CGST.
O CGST é o “gorila na sala quando se trata da operação espacial chinesa”, disse Falco, observando as capacidades de resolução “espetaculares” de seus satélites.
Seus cem satélites também permitem uma taxa de revisita muito alta – passando pelo mesmo ponto de interesse várias vezes ao dia.
Portal Mundo-Nipo
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Jonathan Miyata