Na edição de 5 de abril do programa de entrevistas na Fuji TV, “Wide na Show”, o comediante Hitoshi Matsumoto discutiu medidas de alívio econômico propostas para as pessoas afetadas pela crise do COVID-19. Ele mencionou os trabalhadores empregados no chamado negócio noturno ( mizu sh ōbai ), referindo-se aos bares, clubes e outras empresas de “entretenimento” que atuam fora do horário comercial. Devido a pandemia, o estado de emergência foi instalado, consequentemente os profissionais deste ramo não podem trabalhar. O comentário provocou uma discussão nas mídias sociais, com muitas pessoas, incluindo o famoso cirurgião plástico Katsuya Takasu, expressando solidariedade a Matsumoto. As mulheres que atuam nestes estabelecimentos, geralmente identificadas como “hostess”, não fazem nada além de sentar ao lado de clientes homens, servir bebidas e conversar.
Esse ramo também empregam homens, mas o argumento parecia centrado nas mulheres – o comentário de Matsumoto revelou sua ignorância sobre a natureza de um negócio que ele parece ter patrocinado. Também mostrou como o preconceito pode ser reforçado pela política do governo, como apontado em um artigo de 15 de abril no Harbor Business Online de Mieko Takenobu, que analisou essa discriminação sistêmica e explicou o quão perigoso pode se mostrar nas circunstâncias atuais.
Embora não esteja claro o quanto Matsumoto entende sobre as atuais iniciativas do governo para ajudar aqueles que de repente ficaram desempregados, Takenobu se concentra na compensação de emergência que é paga às pessoas que precisam tirar uma folga do trabalho, geralmente para cuidar de seus filhos. Depois que o primeiro-ministro Shinzo Abe pediu às escolas públicas que fechassem em 27 de fevereiro para ajudar a conter a propagação do vírus, muitos pais, especialmente aqueles com filhos na escola primária, tiveram que tirar uma folga do trabalho para cuidar deles. É precisamente o tipo de situação para a qual a compensação foi criada.
No entanto, empresas classificadas como “sekkyaku inshokugyō” (estabelecimentos que servem bebidas alcoólicas com hostess) ou “fūzokugyō” (um termo genérico que geralmente inclui serviços sexuais) não se qualifica a essa compensação, principalmente porque essas empresas às vezes estão associadas ao crime organizado. No entanto, a crise do COVID-19 coloca o assunto sob uma nova luz. Por definição, recepcionistas, hostess e trabalhadores que prestam serviços sexuais não praticam distanciamento social no trabalho e, como explica Takenobu, as epidemias do passado foram aceleradas por pessoas na base da pirâmide econômica devido à falta de higiene e à natureza de suas atividades. Se uma determinada classe de pessoas for excluída das iniciativas para impedir a propagação de uma doença, essa classe fará com que a doença se espalhe para todas as classes, independentemente de outras medidas em vigor.
Diferentemente da recessão de 2008, que prejudicou principalmente os trabalhadores não-regulares do sexo masculino, porque as fábricas diminuíram a produção, a crise do Corona vírus afetou principalmente mulheres que atuam no ramo do entretenimento adulto. Como os trabalhadores das fábricas em 2008, a maioria dos trabalhadores do entretenimento é remunerado por dia de trabalho, ou seja, se eles são impedidos de trabalhar, são imediatamente mergulhados na pobreza, a menos que recebam algum tipo de assistência pública.
Em 8 de abril, o Asahi Shimbun informou que, com o fechamento de bares e “cabarés”, as hostess regularmente empregadas por esses estabelecimentos estão obtendo, na maioria das vezes, apenas três horas de renda por dia, o que é exigido por lei, mesmo se não houver clientes. Mas, como disse uma hostess ao Asahi Shimbun, alguns de seus colegas não podem sequer vir ao trabalho porque têm filhos e escolas e as creches estão fechadas.
Em 15 de abril, um artigo do Business Journal informou que uma associação chamada “Nihon Mizushobai Kyokai” se encontrou recentemente com Fumio Kishida, presidente do Conselho de Pesquisa de Políticas do governo, para verificar alegações de discriminação oficial contra sua indústria. Um ponto do artigo é que muitas profissionais do ramo são tecnicamente autônomos. Eles contatam os clientes e os levam aos estabelecimentos onde têm contratos, incentivam-os a comprar bebidas em troca de comissionamento. Sem clientes, sua renda é zero.
A associação solicitou que o governo reveja sua política de não dar subsídios segmento de entretenimento adulto.
“Nós apenas queremos ser tratados da mesma forma que outras indústrias”, diz Kohga.
Portal Mundo-Nipo
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Jonathan Miyata