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Haverá aumento do limite de horas extras?

- 15 de dezembro de 2025
Entenda o debate gerado pela nova primeira-ministra do Japão sobre a flexibilização horas extras Japão. O anúncio polariza trabalhadores e famílias vítimas de karoshi.

Entenda o debate gerado pela nova primeira-ministra do Japão sobre a flexibilização horas extras Japão. O anúncio polariza trabalhadores e famílias vítimas de karoshi.

TÓQUIO — A recém-empossada primeira-ministra do Japão, Sanae Takaichi, acendeu um debate nacional e internacional sobre a cultura de trabalho do país após declarações enfáticas sobre sua dedicação pessoal e planos para flexibilizar as regras de horas extras. O cerne da controvérsia reside no contraste entre a busca por maior rendimento financeiro, defendida por trabalhadores como a comunidade brasileira residente, e o luto persistente e o medo do “karoshi” (morte por excesso de trabalho) por parte de famílias japonesas.

💪 O Juramento de ‘Workaholic’ e a Flexibilização Proposta

Em um discurso logo após ser escolhida líder do Partido Liberal Democrático (PLD), Takaichi, que se tornou a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra, declarou: “Vou trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar e trabalhar” – uma frase que se tornou o lema do ano, mas que rapidamente atraiu críticas. A primeira-ministra afirmou ser uma workaholic que dorme apenas 2 a 4 horas por noite e prometeu dedicação semelhante de seu gabinete.

Mais do que uma simples retórica, Takaichi expressou o desejo de flexibilizar o volume de horas extras, atualmente limitado a 44 horas mensais. Esta proposta tem implicações significativas:

  • Comunidade Brasileira e Terceirizados: Para muitos trabalhadores estrangeiros, especialmente a comunidade brasileira no Japão e os terceirizados, a possibilidade de trabalhar mais horas extras é vista como um grande benefício. O aumento do rendimento através das horas adicionais é frequentemente essencial para atingir objetivos financeiros ou sustentar suas famílias, tornando a proposta de Takaichi economicamente favorável.
  • A Posição de Takaichi: A primeira-ministra prometeu abandonar a ideia de “equilíbrio entre vida profissional e pessoal” e se concentrar no trabalho incansável, gerando a expectativa de uma postura mais permissiva em relação à jornada estendida.

💔 A Dor do Karoshi e o Protesto das Vítimas

O entusiasmo de alguns setores pela flexibilização é ofuscado pela profunda preocupação de grupos de japoneses que sofreram perdas devido ao “karoshi”. A morte por excesso de trabalho é um problema de saúde pública e cultural de longa data no Japão, levando o país a promover reformas no estilo de trabalho nos últimos anos.

Familiares de vítimas de karoshi protestaram veementemente contra a escolha da declaração de Takaichi como lema do ano. Noriko Nakahara, que perdeu o marido pediatra devido ao excesso de trabalho e é co-líder de um grupo de vítimas, expressou estar “atônita” com a premiação da frase.

“Foi a maior ofensa às famílias enlutadas, e ficamos profundamente magoados,” disse Nakahara em uma coletiva de imprensa, acrescentando que as palavras da primeira-ministra trouxeram à memória seu falecido marido, que se sentia trabalhado “como um cavalo de carga.”

Outros comentários durante a coletiva de imprensa indicaram que a premiação “parece elogiar um estilo de trabalho que pode tirar a vida de alguém,” reacendendo o trauma e o debate sobre a ética de promover o trabalho incessante.

🤔 Um Equilíbrio Difícil

A polarização criada pelas declarações de Takaichi destaca um dilema complexo no Japão moderno. De um lado, há a pressão econômica e o desejo de muitos trabalhadores por maior flexibilidade para aumentar seus ganhos. De outro, existe a responsabilidade social e a necessidade de proteger a saúde pública contra um problema historicamente trágico como o karoshi.

A primeira-ministra, ao receber o prêmio por sua frase, tentou se defender, explicando que “não tinha a intenção de incentivar o excesso de trabalho ou sugerir que trabalhar muitas horas seja uma virtude.” No entanto, a promessa de trabalhar incansavelmente e o desejo de flexibilizar as restrições de horas extras enviam uma mensagem dúbia, que continua a ser escrutinada por sindicatos, parlamentares e, mais dolorosamente, por aqueles que já pagaram o preço máximo pela cultura do excesso de trabalho.

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Autor

**Portal Mundo-Nipo**
Sucursal Japão

Jonathan Miyata é Correspondente Internacional do Canal Mundo-Nipo em Tóquio. Graduado em Jornalismo pela Universidade de São Paulo e com Pós-Graduação em Estudos Asiáticos pela Universidade de Tóquio (Todai). Atua na cobertura de política, tecnologia e cultura japonesa há mais de 8 anos, com passagens pelo grupo Abril antes de integrar o Mundo-Nipo.

Reportagem: Esta é uma descrição de eventos e ocorrências cujo conteúdo é rigorosamente fundamentado em dados e fatos. As informações são verificadas por meio da observação direta do repórter ou mediante consulta a fontes jornalísticas consideradas idôneas e confiáveis.

Fonte: Nikkei Asia, The Japan Times, Reuters, Mainichi Shimbun, Asahi Shimbun

Edição e publicação responsável: Mundo-Nipo Notícias

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