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Japão Alerta Crescente Vício em Álcool entre Mulheres Desafios e Recuperação

- 28 de junho de 2025
O vício em álcool entre mulheres cresce no Japão. Conheça os desafios, estigmas e programas de recuperação como o "Ametalk!" em Takamatsu.

O vício em álcool entre mulheres cresce no Japão. Conheça os desafios, estigmas e programas de recuperação como o “Ametalk!” em Takamatsu.

O consumo de álcool no Japão, frequentemente retratado em cenários de descontração entre colegas de trabalho, esconde uma realidade preocupante: o aumento alarmante do vício em álcool entre mulheres, muitas atingindo níveis perigosos. Este fenômeno, embora menos visível, representa um desafio significativo para a saúde pública e para a sociedade japonesa, que historicamente associa o alcoolismo a homens.

O Lado Oculto do Consumo de Álcool no Japão

Shino Usui, farmacêutica e organizadora de um grupo de recuperação, testemunha o crescimento exponencial da proporção de mulheres que lutam contra a dependência alcoólica. Como ex-alcoólatra diária, Usui compreende a vergonha e a delicadeza de enfrentar essa batalha em uma cultura onde o alcoolismo feminino é estigmatizado.

Especialistas em saúde alertam que, devido a influências hormonais, as mulheres tendem a desenvolver o alcoolismo mais rapidamente. No Japão, a doença é predominantemente vista como masculina, resultando em uma escassez de programas de recuperação voltados especificamente para as necessidades e experiências femininas. Dados do Ministério da Saúde indicam que, no ano fiscal de 2021, cerca de 108.000 pacientes ambulatoriais buscavam tratamento para dependência de álcool. Em 2023, a proporção de mulheres que bebem em níveis de risco para doenças relacionadas ao estilo de vida aumentou ao longo de uma década, alcançando 9,5%.

“Ametistas” a Esperança de Recuperação Feminina

No Hospital Sanko, em Takamatsu, Shikoku, um programa inovador oferece um refúgio para mulheres em recuperação. Membros da filial local da Associação de Abstinência All Nippon se autodenominam “ametistas”, em referência à pedra preciosa que, no Ocidente, simboliza proteção contra a embriaguez.

O programa Ametalk!, realizado semanalmente desde outubro passado, foi batizado em homenagem a uma popular comédia televisiva japonesa. “Precisamos de um lugar onde as mulheres possam falar sobre seus problemas específicos e rir umas com as outras”, afirma Shino Usui, de 48 anos.

Nesse ambiente de apoio, as mulheres compartilham suas experiências, incluindo o esforço para esconder o problema da família e amigos. Histórias como a de uma participante que abre suas latas de shochu “chuhai” ao som de trens para evitar ser ouvida pelo marido ilustram a profunda vergonha associada. Outras relatam a humilhação de serem mulheres alcoólatras ou a dificuldade de se sentirem à vontade em grupos de recuperação majoritariamente masculinos. “Em grupos como esse, não posso dizer que fico tão bêbada a ponto de às vezes ter incontinência urinária”, desabafa uma delas.

A própria Usui, que aos 31 anos enfrentou um consumo de álcool drástico devido ao estresse do trabalho, afazeres domésticos, cuidados com os filhos e o luto pelo pai, bebendo o equivalente a uma garrafa de saquê por dia, está sóbria há quatro anos graças ao grupo. “O vício não pode ser superado sozinha. Este programa é para mulheres, aquelas que não tiveram escolha a não ser recorrer ao álcool, para que possam falar abertamente sobre suas experiências sem sentir vergonha e começar a viver suas melhores vidas novamente”, ressalta Usui.

Uma participante de 40 anos, que negou o vício por 17 anos, apesar dos apelos da mãe, encontrou no programa a segurança para admitir sua condição. “Eu tinha medo de admitir porque via isso como algo que acontece com homens”, disse ela, enfatizando a facilidade de se abrir com outras mulheres.

Causas e Caminhos para a Conscientização

Shun Umino, diretor do Hospital Sanko, observa que o aumento do alcoolismo feminino é evidente desde o início dos anos 2000. Ele atribui essa tendência ao crescimento da publicidade de bebidas direcionada às mulheres, somado ao estresse do trabalho e da criação dos filhos para aquelas que ingressam no mercado de trabalho.

Mulheres com problemas de bebida frequentemente enfrentam experiências traumáticas como distúrbios alimentares, depressão, agressão e abuso sexual. “Para alcançar a recuperação, é essencial abordar cada paciente individualmente, levando em consideração as diferenças de gênero. Também precisamos conscientizar para eliminar o preconceito contra o vício”, conclui Umino, salientando a importância de um tratamento personalizado e da desconstrução do estigma social.

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