Comunicação em desastres no Japão falha com residentes estrangeiros. Entenda por que a dependência do idioma japonês cria riscos em alertas de segurança.
A afirmação de que o Japão não está preparado para a globalização é um alerta crítico que atinge desde a infraestrutura diária até os momentos mais graves. Enquanto o país atrai milhões de turistas e talentos internacionais, sua fundação linguística e informativa se mantém teimosamente monolíngue. Essa dependência exclusiva do idioma japonês cria barreiras que se tornam perigosas em situações de emergência, expondo uma falha estrutural na segurança no Japão.
A Barreira Linguística no Cotidiano
A desconexão é evidente nas ruas e nos transportes. Placas, informativos e painéis, mesmo em grandes centros, estão majoritariamente escritos apenas em japonês.
Este monolinguismo não é apenas uma inconveniência. Ele reflete a realidade da maior parte da população japonesa, que não domina outros idiomas. Embora seja um pilar cultural, essa característica se transforma em uma vulnerabilidade crítica em um contexto de alta migração e turismo. A segurança de residentes estrangeiros, portanto, fica comprometida pela falta de comunicação acessível.
Falha Crônica em Alertas de Desastres
A fragilidade do sistema fica exposta nos momentos de crise. O recente terremoto de magnitude 7,5 no nordeste do Japão e os alertas de tsunami subsequentes comprovaram o risco iminente.
Os avisos de evacuação da Agência Meteorológica Japonesa, primariamente em japonês, geraram desinformação em massa para estrangeiros. O foco da comunicação ainda é local, em detrimento da comunidade internacional crescente.
José San Juan, um turista filipino, recebeu o alerta em seu celular. No entanto, ele não conseguiu evacuar por não saber para onde ir. A informação crucial sobre locais de abrigo não é transmitida com a urgência e clareza necessárias.
Em hotéis, a confusão imperou. Em uma acomodação em Hakodate, mesmo com instruções em inglês, alguns hóspedes desceram em vez de subir para evitar o tsunami. A falta de protocolos claros e universalmente compreensíveis levou a ações contra-intuitivas. Em outro local, informações de segurança estavam afixadas, mas somente em japonês. Estrangeiros precisaram recorrer a aplicativos de tradução improvisados.
“Informações como locais para onde evacuar não são transmitidas aos estrangeiros com a urgência necessária”, alerta Mayumi Sakamoto, professora da Universidade de Hyogo.
O Descompasso entre Crescimento e Infraestrutura
O contraste é flagrante. O Japão registrou um recorde de mais de 36 milhões de visitantes estrangeiros recentemente. Contudo, a infraestrutura de comunicação em desastres do país não acompanhou esse crescimento exponencial.
A globalização exige a integração e a garantia da segurança de todos os que estão no país. A falha em fornecer informações essenciais em vários idiomas é uma violação do princípio fundamental da segurança humana universal.
A Urgência por Sistemas Multilíngues
O Japão precisa urgentemente superar a mentalidade de “ilha isolada”. Deve abraçar soluções práticas para proteger sua população globalizada.
Sistemas de alerta eficientes para estrangeiros são essenciais. Isso inclui a introdução de aplicativos e sites multilíngues obrigatórios. Tais ferramentas devem ser facilmente acessíveis aos visitantes logo na chegada. As autoridades devem, ainda, exigir a padronização de protocolos de evacuação claros em acomodações. Esses protocolos devem ser visíveis e multilingues, minimizando a dependência do japonês.
Em conclusão, a lição é direta: a globalização demanda multilinguismo. Em um país propenso a desastres naturais, ignorar essa exigência de comunicação é um risco inaceitável para a vida de milhões. Garantir a segurança no Japão para todos exige uma mudança cultural e tecnológica imediata.


**Portal Mundo-Nipo**
Sucursal Japão
Jonathan Miyata é Correspondente Internacional do Canal Mundo-Nipo em Tóquio. Graduado em Jornalismo pela Universidade de São Paulo e com Pós-Graduação em Estudos Asiáticos pela Universidade de Tóquio (Todai). Atua na cobertura de política, tecnologia e cultura japonesa há mais de 8 anos, com passagens pelo grupo Abril antes de integrar o Mundo-Nipo.
Reportagem: Esta é uma descrição de eventos e ocorrências cujo conteúdo é rigorosamente fundamentado em dados e fatos. As informações são verificadas por meio da observação direta do repórter ou mediante consulta a fontes jornalísticas consideradas idôneas e confiáveis.
