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Por que a demanda por estagiários asiáticos tem crescido?

- 5 de maio de 2020

Na matéria publicada na semana anterior explanamos sobre a indefinição sobre o mercado de trabalho aos descendentes de japoneses devido a acirrada concorrência dos asiáticos.
Entramos em contato com algumas agências que servem de elo entre o trabalhador e empresas de terceirização de mão-de-obra para escutar sobre as reais perspectivas:

“A demanda de mão-de-obra de descendentes de japoneses irá continuar pós pandemia, porém de forma mais seletiva. O trabalhador deverá ter o domínio mínimo da língua japonesa que permita trabalhar sem a necessidade de intérprete ou do auxílio de algum companheiro de fábrica. Deverá ter habilidade para ler e escrever o “hiragana” e o “katakana”. Caso venha a trabalhar em empresas do segmento de autopeças ou construção civil deverá possuir certificados (empilhadeira, escavadeira, guindaste e outros). Quem não se adaptar a esta nova condição passará a sofrer mais para encontrar uma colocação ou mesmo recolocação”, disse o diretor de uma agência de empregos estabelecida em Maringá.

“A mão-de-obra asiática é uma boa alternativa as empresas japonesas no que se refere ao seu custo x benefício. A grande vantagem está no fato de que uma vez contratado por uma empresa não poderá mudar de empresa, ou seja, uma vez contratado ficará na empresa por cinco anos. Algo que não é garantido pelos funcionários de empresas de mão-de-obra terceirizadas. As fábricas prezam muito a continuidade do trabalhador na empresa. Para que o trabalhador consiga produzir com qualidade, sem o auxílio de um líder, serão necessários pelo menos três meses. Imagine se o funcionário se desliga no quarto mês? Todo o tempo e dinheiro investido para o seu treinamento é perdido”, comentou o diretor de uma agência de empregos estabelecida em São Paulo.

“A mão-de-obra brasileira tem se tornado um investimento caro às empresas japonesas. Antigamente o trabalhador “nikkei” vinha ao Japão com o único propósito de guardar dinheiro, por isso aceitava dividir o seu quarto com uma outra pessoa, aceitava trabalhar em qualquer calendário, mesmo que fosse aos sábados e domingos. Ultimamente as exigências dos trabalhadores “nikkeis” estão cada vez mais difícil de atender, pedem apartamento do tipo 1K, caso seja família apartamento do tipo 2DK. Tivemos até um cliente que saiu da empresa por que a máquina de lavar roupa ficava no lado externo do apartamento, poucos dias após ter chegado do Brasil. Numa época em que as fábricas estão em produção máxima haverá a possibilidade de todos estes pedidos serem atendidos, mas numa época de baixa produtividade ficará muito difícil de atendê-los”, explicou o presidente de uma grande empresa de terceirização de mão-de-obra japonesa estabelecida em São Paulo.

“Uma das grandes vantagens de se utilizar mão-de-obra asiática está no fato do custo de vida ser baixo nestes países (Vietnã, Indonésia, Filipinas, etc.). Trabalhando no Japão e enviando 30.000 é possível sustentar uma família por um mês. Caso o recurso não consiga se adaptar ao sistema japonês, o custo de uma passagem aérea gira em torno de 20.000 ienes, será fácil repatriar este recurso. Isso não acontece com os brasileiros, o custo de vida no Brasil é alto, o custo de uma passagem aérea para retorno gira em torno de 130.000 ienes. Isso aumenta o fator risco na contratação de recursos vindos do Brasil, algo que tem peso importante no momento de decisão da empresa de terceirização de mão-de-obra”, comentou o diretor de uma empresa de terceirização de mão-de-obra no Japão fixado em Osaka, Japão, que possui como projeto o aumento do número de asiáticos.

“Antigamente o nosso quadro de funcionários era quase 100% formado por descendentes de japoneses (brasileiros e peruanos). Hoje reduzimos o quadro de “nikkeis” para 30% e o restante foi preenchido por estagiários asiáticos do Vietnã. Contamos atualmente com cinco escolas de treinamentos no Vietnã, quando chegam ao Japão conseguem falar o idioma japonês sem muita dificuldade. Meus clientes estão plenamente satisfeitos. Reduzimos os custos relacionados à locação de apartamentos, pois os novos funcionários aceitam compartilhar os quartos em troca de redução no aluguel. Uma vez contratados seguem trabalhando pelo período de cinco anos, isso diminui a quantidade de coordenadores contratados. Acreditamos que a tendência deste novo modelo de negócio é cada vez se expandir”, disse o presidente de uma grande empresa de terceirização de mão-de-obra instalada na província de Aichi, Japão.

“O brasileiro precisa enquadra-se melhor às mudanças do mercado e preparar-se para que mantenha-se atrativo como mão-de-obra. Cito um caso muito frequente no momento da entrevista em que o candidato vem ao escritório com chinelo de dedo, bermuda e camiseta regata para o preenchimento de um currículo. Inicio sempre com o teste de conversação, leitura e escrita. O entrevistado me responde que não sabe falar a língua japonesa e também não sabe ler e escrever, pois sempre trabalhou em meio a muitos brasileiros, não teve a necessidade de saber a língua japonesa para desempenhar o serviço. Não sabe ler e escrever porque não teve tempo para estudar, diariamente trabalha-se mais de dez horas. Sem ter me convencido passo para o teste de matemática (adição, subtração, multiplicação e divisão). O entrevistado não consegue resolver completamente os testes, argumenta que não tem feito cálculos no papel, que utiliza sempre a calculadora. O brasileiro utiliza algum tipo de argumento para justificar a sua deficiência, sendo que isto não o ajudará numa entrevista de empregos. O importante é ter a consciência que as pessoas precisam investir em si, capacitar-se para que seja mais interessante ao futuro contratante”, respondeu um coordenador de recursos humanos de uma empresa estabelecida na província de Shizuoka, cidade de Hamamatsu.

Ao todo conversamos com aproximadamente dez empresas, sendo algumas agências de intermediação no Brasil e outras empresas de terceirização de mao-de-obra no Japão.

Os comentários coletados são muitos parecidos um dos outros. Resumindo, quem pretende trabalhar no Japão precisará agora em diante capacitar-se no idioma nativo, obter certificados que valorize o seu currículo. Precisará convencer o contratante que você é mais capacitado e que o seu custo x benefício em comparação com o estagiário asiático é melhor.

Portal Mundo-Nipo
Sucursal Japão Tóquio
Jonathan Miyata