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O amor japonês é mais complicado do que você imagina

- 12 de julho de 2019

Essa matéria foi escrita por Kaori Shoji e trouxemos para vocês. 

“Aos 13 anos de idade, recebi minha primeira cartinha de amor, onde guardei na minha caixinha de sapatos da escola onde estudava. 




 

Caso você não saiba, o getabako (caixinha de sapato) tem sido o esconderijo clássico de cartas de amor para as gerações de românticos adolescentes e assim permanece até os dias de hoje. 
O que é a puberdade japonesa sem a visão gloriosa de um envelope deixado ao topo de sua caixinha?

Eu segurei a minha cartinha ao longo do dia, mas de alguma forma eu a perdi quando cheguei em casa. Infelizmente meu pai a viu naquela noite e me chamou para sentar-se ao Shokutaku (mesa da cozinha), já que o nosso pequeno apartamento não nos permitia um ambiente para conversar: Meus pais disseram que eu deveria encerrar imediatamente esse romance e me proteger de todos os homens. 

Estou lhes contando essa história porque é emblemático como os japoneses veem essa questão do amor.  

É claro os tempos mudaram e a sociedade parece mais aberta do que nunca hoje em dia, mas mesmo assim, no fundo do núcleo dessa teimosa sociedade patriarcal, a crença é de que o amor e todas as suas vertentes sempre nos leva para estresse e aborrecimento e, portanto, sempre devemos cessar esse absurdo imediatamente. 

Agora, uma tonelada de anos após esse incidente, eu lamento ter que relatar homens e mulheres hoje em dia ainda tem tantas dificuldades de se entenderem. 
Você só precisa entrar em algum barzinho japonês para ver com os seus próprios olhos, a segregação entre os sexos – Os homens reclamando sobre suas parceiras de um lado, e do outro a noite das mulheres onde reclamam da falta de bons parceiros. 

Você deve pensar que esses dois grupos vão começar a se misturar em algum momento da noite, mas isso raramente acontece. 

O preço do amor hoje em dia parece aumentar a cada ano.  

Minha amiga Kumi, de 38 anos, sempre me diz: “nessa idade eu não tenho escolha e não vou ser exigente quanto a isso, eu só quero que o homem tenha uma renda anual de ¥7 milhões e que não seja careca”. 

 Ela não liga quanto a personalidade, seu ponto de visão político, se é misógino ou racista, odioso ou machista, para ela o homem ter uma renda suficiente é o único ponto que faz ela se comprometer.  “Não posso confiar em homens sem dinheiro”. 

É bem provável que a maioria das mulheres japonesas não confiem em homens e ponto final. Durante séculos as mulheres viveram às sombras dos homens. Foram proibidas de trabalhar e não podiam expressar suas preferências. Mesmo depois da Segunda Guerra Mundial, pouquíssimas mulheres entraram em casamentos que envolviam amor, e mesmo assim o amor em grande parte significava trabalhar sem parar em casa, para garantir que o marido e as crianças ficassem confortáveis. 

Os japoneses acabaram com a ideia desse negócio chamado amor e não há nenhum chocolate de dia dos namorados (obrigatório na data) que vá resolver isso.” 

1 comentário
    Sandra

    Esta história confirma a impressão que tive do povo japonês desde o primeiro dia que me mudei para cá. Um povo extremamente reprimido nos seus sentimentos, sem expressões de carinho ao parceiro e um hábito estranhíssimo de sair para se divertir… mulher com mulher , homem com homem.

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