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A Crise do Arenque no Báltico, Impacto Ambiental e Desafios para a Pesca Sustentável

- 5 de maio de 2024

Ambições Norueguesas e o Custo Ambiental: O impacto da produção de salmão no ecossistema do Báltico.

A Suécia celebra o arenque fermentado, uma iguaria nacional, com tanto entusiasmo que a primeira venda anual é um evento comparável ao lançamento do primeiro Beaujolais na França. No entanto, essa tradição está ameaçada pela drástica redução dos estoques de arenque do Báltico, colocando em risco não apenas uma parte importante da cultura sueca, mas também a biodiversidade marinha. A causa principal desse declínio é a pesca industrial em larga escala, que captura o arenque para transformá-lo em ração para o salmão de viveiro, um setor dominado pela Noruega.

A Noruega, responsável por mais da metade do salmão cultivado globalmente, viu suas exportações de salmão atingirem 17 bilhões de dólares no último ano. O país tem planos ambiciosos de expandir sua produção de salmão em cinco vezes até 2050, o que representa cerca de 3% do seu PIB. Este crescimento, no entanto, tem um custo ambiental significativo, ameaçando o arenque do Báltico, essencial para o ecossistema marinho da região.

Cientistas alertam para uma redução de 90% na população de arenque desde a década de 1960, com riscos de colapso total. A Comissão Europeia sugeriu a suspensão total da pesca do arenque, mas esta medida foi vetada pelos Estados bálticos, preocupados com o impacto econômico. Atualmente, as quotas de pesca são distribuídas por país, mas não limitam efetivamente a captura, permitindo que grandes quantidades de arenque sejam pescadas de uma só vez.

Bjorn Lundgren, da Rovogerns Surstromming, uma das empresas mais renomadas de arenque fermentado da Suécia, testemunhou uma queda dramática nos estoques de peixes, afetando diretamente sua produção. Ele defende a proibição da pesca de arenque não destinada ao consumo humano, uma medida que poderia ajudar a preservar o delicado ecossistema do Mar Báltico.

O Mar Báltico, com um sexto do tamanho do Mediterrâneo, abriga um ecossistema único, onde o arenque desempenha um papel crucial na cadeia alimentar. A pesca excessiva, juntamente com o escoamento agrícola, a proliferação de algas tóxicas e o aquecimento global, ameaça desestabilizar completamente a região.

A indústria de salmão da Noruega é um dos principais consumidores de farinha e óleo de peixe, produtos derivados do arenque. Embora a indústria tenha reduzido o uso de farinha e óleo de peixe na alimentação do salmão, a demanda continua alta, e alternativas como insetos, larvas e algas ainda não são suficientes para substituir completamente os ingredientes marinhos.

A situação do arenque no Báltico é um alerta para a necessidade de práticas de pesca mais sustentáveis e uma gestão responsável dos recursos marinhos. A Finlândia já tomou medidas proibindo a pesca de arrasto durante o período de desova do arenque, e a Suécia planeja seguir o exemplo.

Este desafio coloca em destaque a complexidade da gestão dos oceanos e a necessidade urgente de equilibrar as demandas econômicas com a preservação ambiental. A crise do arenque no Báltico serve como um lembrete de que a sustentabilidade deve ser uma prioridade na indústria pesqueira e aquícola, para proteger não apenas as espécies em risco, mas também as tradições culturais e a biodiversidade marinha para as gerações futuras.

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